Entrevista
"Estou à beira de um esgotamento físico", diz Vicélia Florenzano
A solução para seguir com as portas do Cegin abertas veio do apoio do poder público e de sindicatos. Faltou maior interesse do poder privado?
Não acho que tenha faltado vontade dos empresários. Há meses tenho visitado empresas, mas, nesta época do ano, elas ainda não têm o valor que poderão destinar ao marketing ou à renúncia fiscal via Lei de Incentivo para nos repassar. Algumas empresas já assinalaram interesse em nos apoiar em 2014, como a Cielo, que quer seguir como patrocinadora master. Volvo e ALL também já demonstraram interesse.
Você teme que essa crise possa se repetir?
Tenho certeza de que, depois de todo esse barulho que vivemos nos últimos dias, mais empresas vão se sensibilizar.
Como foram esses dias de apreensão em busca de uma solução para o Cegin?
Estou à beira de um esgotamento físico, tive muita insônia, perdi muito peso. Mas também recebi muitas manifestações de solidariedade. Os pais das crianças davam sugestões do que podia ser feito, as pessoas se ofereciam para serem voluntárias.
Quarenta e oito horas após ameaçar fechar as portas por falta de patrocínio, a Federação Paranaense de Ginástica (FPRG) conseguiu apoiadores para manter integralmente o Centro de Excelência em Ginástica (Cegin). Entretanto, com contenções de custos.
Ontem, as 220 garotas do projeto de desenvolvimento de categorias de base viram duas professoras dispensadas retornarem ao trabalho e souberam que não terão mais as aulas suspensas. Isso porque a Força Sindical do Paraná decidiu doar R$ 26 mil à Federação. O valor permite a manutenção das aulas até janeiro de 2014.
Na quarta-feira, a FPRG já havia conseguido garantias financeiras do governo do Paraná para realocar verbas do patrocínio da Renault destinadas a reformas para bancar a equipe de alto rendimento, que conta com atletas da seleção brasileira e técnicos estrangeiros, entre eles, o ucraniano Oleg Ostapenko.
"Foi uma alegria só. Cheguei recebendo as boas-vindas das meninas, dois dias depois de ter me despedido delas com choro. Trouxeram flores e presentinhos, uma festa", fala Deise Mercer, professora há 19 anos do Cegin, demitida na terça-feira porque o contrato de parceria da FPRG com a LiveWright, empresa que gerenciava as finanças dos projetos em ginástica, termina no próximo dia 30. Sem os R$ 26 mil extras as aulas se encerrariam em 31 de outubro.
"O astral no ginásio hoje [ontem] foi outro. Voltamos a ter o sentimento de segurança. Até janeiro, viveremos em um regime de contenções, até conseguirmos firmar novos contratos via Lei de Incentivo. Estou muito feliz porque conquistamos um novo parceiro, onde nem imaginei que poderia ter, entre os sindicatos", afirmou a presidente da Federação, Vicélia Florenzano.
O vice-presidente da Força Sindical paranaense, Sérgio Butka, afirmou que ficou sensibilizado ao saber da possibilidade de o Cegin fechar as portas por falta de patrocinadores.
"Entrei em contato com os nossos sindicatos e todos concordaram rapidamente. Esse valor vai ajudar a manter os treinamentos até janeiro, quando a Vicélia [Florenzano, presidente da entidade] vai ter novos investidores, e, se for o caso, seguiremos apoiando", explicou. Em contrapartida, Butka espera que o Cegin possa receber filhos de trabalhadores ligados aos sindicatos com potencial para se tornarem ginastas.
Também ontem, o diretor de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Ricardo Avellar, informou que o ministério tem acompanhado a situação e pretende se reunir com dirigentes do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para discutir formas de apoiar o Centro de Excelência.
"É um local estratégico para o desenvolvimento da ginástica em alto rendimento. Não podemos deixar cair a qualidade do trabalho feito em Curitiba", afirmou ontem, durante passagem pela cidade para o Campeonato Brasileiro de Esgrima.
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