O drama vivido por José Macia, o Pepe, nas Copas de 58 e 62 são o contrataste entre o futebol moderno e o de 50 anos atrás. O Canhão da Vila estava nos dois escretes, mas sagrou-se bicampeão mundial sem ao menos entrar em campo. O motivo: duas contusões às vésperas da Copa do Mundo, que os médicos brasileiros de então não conseguiram tratar a tempo. Se conhecessem as técnicas da medicina atual, talvez o ponta-esquerda também pudesse ter abrilhantado ainda mais as duas conquistas do Brasil com seu chute de 122 quilômetros por hora.

CARREGANDO :)

"Em 58, tive uma torção no tornozelo e só me recuperei para a final, mas aí não dava mais tempo", diz. "Em 62, você não vai acreditar, dei um pique num amistoso e saiu uma bolota na minha perna. Até hoje não sei o que era", conta Pepe. No lugar, Zagallo iniciou sua trajetória de glórias com a amarelinha. Pepe tem razão ao dizer que hoje seria diferente. As características da contusão (a bolota misteriosa de 62) não deixam dúvidas aos especialistas de agora. "Com certeza, uma rotura ou um estiramento muscular", afirma o ex-médico do Atlético-PR, Marco Antônio Pedroni.

Nos dois casos, e também na torção de tornozelo, o período médio de recuperação é de três semanas. O tratamento adequado – veja só, Pepe! – é apenas gelo e antiinflamatórios. Mas na época se fazia tudo ao contrário. O remédio se resumia a aplicação de panos quentes no local lesionado. Diminuiu a dor, mas agrava a lesão. No caso de Pepe, agravou também a eterna mágoa do craque e impediu o surgimento de uma estrela talvez com a mesma grandeza de Pelé. Os poucos conhecimentos médicos de então deixaram para sempre essa incógnita no ar.

Publicidade

A medicina, contudo, é apenas um exemplo das muitas evoluções do esporte fora das quatro linhas. Das regras aos acessórios, o futebol moderno não pára de apresentar inovações. Na Copa da Alemanha, por exemplo, uma nova bola, chuteiras específicas para cada posição do campo, sensores com GPS utilizados no uniforme dos atletas para monitoramento de treinos, meias específicas para os pés esquerdo e direito para evitar cãibras, camisas que evitam a perda exagerada de líquido no forte calor alemão, com material especial que aquece no frio e refresca no calor.

Com toda essa tecnologia, Pepe acredita que o futebol de sua geração iria melhorar bastante. "Na minha época, a bola era de couro, difícil de fazer curvas", diz. Quando molhava, então, ela dobrava de peso. "Hoje, imagino que o meu chute ficaria ainda mais forte", opina. "A bola de hoje faz tantas curvas que os goleiros não encaixam, preferem socá-la para longe". Mas a alta tecnologia dos "utilitários" é apenas o pano de fundo para uma guerra travada pelas empresas esportivas fora das quatro linhas, cujo ápice será na Copa da Alemanha.

As três maiores do setor já estão posicionadas. A Puma patrocina 12 das 32 seleções que participarão da Copa, a Nike, oito. A Adidas patrocinará só seis, mas conta como trunfo a bola da competição, que fabrica desde 1970. "Uma configuração totalmente nova, de 14 gomos, fornecendo uma parte externa macia, com uma esfera perfeita e trazendo melhoras significativas em termos de precisão e controle", anuncia a empresa alemã. A Adidas espera vender mais de 10 milhões de bolas. No total, entre camisas, chuteiras, a empresa pretende arrecadar perto de 1 bilhão de euros.

Contudo, seu maior trunfo não foi aprovado pela Fifa: a "bola inteligente" ou "juiz eletrônico". Trata-se de um chip de 12 gramas, do tamanho de uma moeda de 5 centavos, que consumiu seis anos de estudos e 10 milhões de euros bancados pela Adidas. Eles seriam instalados dentro da bola e nas caneleiras dos jogadores, enviariam dados para um computador central e marcariam com exatidão os gols, impedimentos, laterais e tiros de meta. Mesmo testado com sucesso no Campeonato Mundial Sub-17, a Fifa diz que a tecnologia "ainda não está perfeita".

Publicidade