César Cielo com a segunda medalha de ouro no Mundial de Roma: comemoração no pódio teve sorrisos e só uma lágrima| Foto: Christophe Simon/AFP

Treino reverte talento natural em vitórias

César Cielo nasceu com o corpo pronto para a natação. Mas foi um especializado programa de treino, aliado a trabalho psicológico e tranquilidade que fez o brasileiro se tornar um dos melhores velocistas do mundo. O nadador tem porte físico ideal para atletas de provas rápidas, é alto e tem ótima envergadura. Com 1,95 m, mede 2,06 m de uma mão a outra com os braços abertos. A distância é maior do que a do corpo de Mi­­chael Phelps, 2,03 m.

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Confira que César Cielo esperava nadar na casa dos 20s
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Roma - Duas batidas fortes no peito para soltar a musculatura. O sinal da cruz repetido quatro vezes. O dedo indicador apontando para o céu. A reação mais rápida entre todos no bloco ao tiro de largada, 68 centésimos. E, 21 segundos e oito centésimos depois, César Cielo estava definitivamente na história com um dos maiores velocistas do mundo, o melhor da atualidade.

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Com esse tempo, o brasileiro de 22 anos venceu a final dos 50 m livre, ontem, no Mundial de Nata­ção de Roma. Na prova, repetiu o feito e o pódio com dois franceses da Olimpíada de Pequim – agora, teve ao lado Frédérick Bousquet (21s21) e Amaury Leveaux (21s25). Sua performance na Itália, porém, torna a façanha ainda maior.

Ganhador dos 100 m livre na quinta-feira, com recorde mundial, Cielo é apenas o terceiro na­­dador a vencer a mais veloz e a mais nobre provas das piscinas no mesmo Mundial. Antes dele, só o norte-americano Anthony Ervin, em 2001, e o russo Alexander Po­­pov, em 2003, haviam conseguido tal combinação. Ao lado de Popov, é o único nadador a ganhar os 50 m em uma Olimpíada e no Mun­dial seguinte.

"Fazer essa dobradinha é o so­­nho de muito velocista. Isso aqui é a realização de um sonho", disse Cielo.

Embora emocionado com a conquista, não repetiu a choradeira do triunfo nos 100 m livre. No pódio, somente nos acordes finais do hino brasileiro, acompanhado às palmas pelo público, deixou es­­­correr uma lágrima. Visivelmen­­te a marca no cronômetro o incomodava.

"Esperava nadar um pouco mais rápido, mas o importante é ganhar", disse. "Não foi uma prova perfeita. Mas o resultado foi per­feito", reforçou o técnico Brett Hawke.

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O "um pouco mais rápido" era na­­dar na casa dos 20 segundos, algo que apenas Bousquet, seu companheiro de treinamento, conseguiu até hoje. Como consolo, passa a ter a segunda melhor marca da história da prova, 21s08 (veja quadro ao lado com a evolução do recorde nos 50 m livre).

Também arrancou novos elogios de Michael Phelps, que apontou o brasileiro como o principal velocista da atualidade.

"Ele é o ‘real deal sprinter’ (é o cara da velocidade, numa tradução livre). Era minha aposta para os 100 m. Eu estava nas tribunas assistindo. É um grande atleta, um grande nadador", disse.

Phelps protagonizou outro grande momento do dia, na revanche dos 100 m borboleta com o sérvio Mirolad Cavic. Em Pe­­quim-2008, o americano levou o ou­­­ro por um centésimo, em uma polêmica batida de mão. Sexta-feira, na semifinal de Roma, Cavic venceu a prova, quebrou o recorde mundial e provocou o oponente, que veste o agora ultrapassado maiô LZR Racer. "Sei que ele ganha muito dinheiro da Speedo. É lealdade. Mas sei que você sempre pa­­ga um preço, não importa qual seja sua escolha", cutucou.

Ontem, Phelps, com uma recuperação espetacular nos últimos 25 metros, venceu a prova, recuperou o recorde mundial (49s82) e desabafou. Sentou-se na raia, ar­­rancou o touca, socou a água e es­­ticou o maiô.

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"Eu sei dos comentários que já foram feitos e me fortaleço com eles. Os comentários me motivam, e eu deixo a minha natação dar a resposta", afirmou.