A batedora Tatiane Schneider é uma das atletas sem recursos para o Mundial| Foto: Pedro Serápio/ Gazeta do Povo

Um carro popular 1.0 custa, em média, R$ 30 mil. É o necessário para que a equipe de punhobol do Clube Duque de Caxias, em Curitiba, tente o tricampeonato mundial interclubes, em julho, na Áustria. Valor irrisório para uma competição internacional, que cobriria as despesas de dez pessoas – oito jogadoras, o técnico e um dirigente. Apesar do valor baixo, a equipe teme não conseguir angariar as cifras a tempo de embarcar para a Europa.

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Nos anos anteriores, as atletas utilizavam a verba do Bolsa-Atleta – programa do Ministério do Esporte para o alto rendimento – para pagar as despesas de competições. Algumas das jogadoras recebiam R$ 1,5 mil por mês, na modalidade internacional, e outras R$ 800/mês, na modalidade nacional.

Como a modalidade não é muito conhecida no país – "embora as pessoas paguem ingresso para assistir aos jogos na Alemanha, na Suíça e na Áustria", destaca o coordenador de punhobol do Clube Duque de Caxias, José Roberto Vinharski –, não é fácil convencer o empresariado a patrocinar a modalidade. Não vêem que tipo de retorno teriam ao vincular sua marca ao esporte.

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Assim, o recurso federal era a única garantia – além do apoio financeiro do próprio clube, que cobre um terço das despesas em competições – da presença do time completo na Áustria. As atletas tentam fazer caixa com dois recursos bem conhecidos dos atletas amadores: a venda de doces e salgados produzidos pelos familiares nas competições locais e o "paitrocínio". Longe de ser suficiente.

A batedora Tatiane Schneider, atleta da seleção brasileira adulta, é uma das principais atletas da equipe ("é como se fosse a atacante, se fosse um time de futebol", explica Vinharski) e corre o risco de não competir o Mundial, por falta de verba. E não é só a sua participação no interclubes que está em risco. "Talvez eu tenha de parar de treinar para conseguir trabalhar", diz a campeã mundial com a seleção brasileira.

Sem o Bolsa-Atleta, a defensora Rejane Signori também reavalia seus planos. "Nem todos podem se deslocar para a Europa para representar o país em um esporte que, para nós, parece não ser bem quisto por quem deveria nos ajudar", fala.

Apesar de ser um esporte ancestral – espécie de avô do tênis para alguns, pai do vôlei para outros –, o punhobol não é modalidade olímpica, fato decisivo para a escassez de verba, na opinião do vice-presidente da Confederação Brasileira de Desportos Terrestres (CBDT), Manoel Oliveira Azevedo. "Recebemos uma notificação do Ministério do Esporte informando o corte. Dizia que, a partir de agora, 85% da verba do Bolsa-Atleta será destinado a modalidades olímpicas. Os outros 15% serão distribuídos entre atletas de outros esportes, que são mais de 40", diz o dirigente.

O diretor de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Marco Aurélio Klein, confirmou a nova diretriz, baseada na aprovação da lei 12.391/11, publicada em março e que, entre outras alterações na lei esportiva, determina novos parâmetros para o programa Bolsa-Atleta.

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"O que divulgamos até agora foi a lista de atletas de esportes olímpicos e paraolímpicos que vão receber a verba referente a 2010. Ainda falta uma reunião do Conselho Nacional do Esporte (CNE) que vai definir a lista de esportes prioritários para os 15% restantes, de um total de R$ 4,8 milhões destinados ao Bolsa-Atleta. Em maio, devemos abrir as inscrições para os beneficiados de 2011", diz.

A reunião do CNE ainda não tem data definida. Enquanto isso, as atletas do punhobol de Curitiba e de outras modalidades não olímpicas ficam sem saber quando e se voltarão a receber os recursos. "Podemos trabalhar com a confederação responsável se for para uma seleção brasileira ou para a entidade que vai participar da competição internacional, para buscar uma solução em que os atletas não deixem de competir", diz Klein.