A mais chocante morte súbita vivida no futebol brasileiro ocorreu há exatamente um ano. Durante o jogo com o São Paulo, o zagueiro Serginho, do São Caetano, simplesmente desabou em campo antes da cobrança de um tiro de meta. A preocupação instantânea de atletas dos dois times terminou com o falecimento do defensor de 30 anos, minutos mais tarde. Passado o choque da tragédia, o mundo do futebol mudou um pouco. Por obrigação.
Os exames, antes subestimados em muitos clubes, passaram a ser levados a sério. Até porque uma fatalidade como a do Morumbi pode respingar em dirigentes e médicos. Seja por negligência na apuração da condição física dos jogadores ou por assumirem o risco de manter em atividade um atleta sem perfeitas condições de saúde, ambos podem responder criminalmente.
É o que estão vivendo Paulo Forte, médico do Azulão, e Nairo Ferreira de Souza, presidente do clube na época. Eles são acusados de homicídio com dolo eventual sabiam do problema e não fizeram nada para impedir e o processo deve se estender até o próximo ano. Exames realizados no Instituto do Coração (Incor) no início daquela temporada teriam apontado irregularidades no coração do jogador ele morreu devido a uma miocardiopatia hipertrófica.
A noite de 27 de outubro de 2004 ficou marcada por irregularidades. A queda de Serginho, aos 14 minutos do segundo tempo, foi apenas o primeiro ato. Muitos médicos reclamaram da demora no atendimento, que teria diminuído consideravelmente a possibilidade de salvar o zagueiro. Uma ambulância que ficava ao lado do campo estava trancada e prejudicou ainda mais a luta pela vida de Serginho.
"Esse fato deixou todo mundo mais atento. Criou uma conscientização maior da importância da prevenção, tanto nos clubes como entre os jogadores", explicou o médico William Yousef, do Coritiba. Segundo ele, todos os exames necessários já eram exigidos no início da temporada ou antes de contratações. A mesma medida era tomada no Atlético e no Paraná. O que mudou foi a minúcia com que os resultados passaram a ser analisados.
"Infelizmente, foi preciso um episódio como este para mostrar que se pode morrer em campo", afirmou Paulo Broffman, médico responsável pelo Rubro-Negro. "As equipes que não tinham cardiologista o que não era nosso caso tiveram de contratar um especialista ou fazer convênios", comentou. Ele ainda destacou que o Furacão já tinha desfibriladores, equipamento de ressuscitação, antes da fatalidade. "Por causa da situação do Washington [o atacante tinha histórico de problema cardíaco]", explicou.
Atualmente, os três times de Curitiba têm desfibriladores portáteis que são levados em todos os treinos e jogos. "Para salvar um jogador, o primeiro atendimento é fundamental. Não adianta só ter os aparelhos, é preciso identificar rapidamente o problema", disse o médico paranista Mothy Domit Filho. De acordo com ele, os prontuários dos atletas contratados de outros clubes estão mais completos.
A principal lição tirada com a morte de Serginho, a prevenção, teve como maior exemplo o próprio São Caetano. Cerca de três meses depois da fatalidade, o meia Fabrício Carvalho foi afastado em decorrência de uma arritmia constatada em exames. Em tratamento para tentar voltar ao futebol, o atleta ainda segue longe da bola.
E o medo ganhou terreno internacional. Na Copa do Mundo, a Fifa anunciou que todas as seleções serão obrigadas a apresentar exames completos das condições de saúde dos jogadores.
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