Inflação
Ingresso decola 114,47% Curitiba é a capital com o preço de ingresso mais inflacionado. A afirmação tem base em dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que apontam um aumento de 114,47%, entre os meses de fevereiro de 2006 e 2011. A cidade tem variação superior ao dobro no item "ingresso para jogo" em relação aos outros centros avaliados. O valor é tão significativo que o IPCA geral do período em Curitiba, envolvendo todos os outros setores analisados, foi de apenas 18,87%.
A discrepância entre o preço do ingresso e do plano de sócios configura uma prática abusiva por parte dos clubes, de acordo com a coordenadora do Procon-PR, Claudia Silvano. "A abusividade está em induzir o consumidor a fazer um contrato por um determinado tempo. Poderia até ser diferenciado [o preço], mas não em valores tão distintos", afirma ela.
Há possibilidade de multa aos clubes, que varia entre R$ 300 e R$ 2 milhões, mas depende de a pessoa que se sentir lesada manifestar a insatisfação aos órgãos de defesa do consumidor. "Numa demanda coletiva, o dano ao clube é gigantesco", fecha Claudia.
As bilheterias dos estádios de Curitiba, onde alguns anos atrás se formavam filas quilométricas, dobrando as esquinas, agora estão vazias. O ritual de comprar o ingresso para um jogo de futebol naquela janelinha minúscula, sempre abaixo da linha da cabeça, está com os dias contados. Reflexo de um fenômeno mundial que aportou de vez por aqui e tem tudo para decretar o fim do torcedor de ocasião.
A constatação tem explicações em pontas opostas, porém intimamente ligadas. Na mesma progressão em que o preço do ingresso não para de subir e o torcedor de bilheteria é cada vez mais raro, a figura do sócio-torcedor passa a dominar as arquibancadas, a um custo-benefício bem convidativo. A tendência é que, em um futuro próximo, os estádios curitibanos recebam exclusivamente associados ao clube. De pagantes mesmo, só os seguidores do adversário.
Nos jogos do trio de ferro, a maioria do público já é formada por sócios. Atlético e Coritiba representam bem a nova realidade. Com planos mais antigos e maduros, a dupla recebe um público quase essencialmente de mensalistas desde 2009. Mais atrasado, o Paraná pela primeira temporada experimenta a minoria de torcedores de bilheteria, mesmo que em menor proporção.
Os dois extremos se distanciam na medida em que o preço dos ingressos na boca do estádio aumenta. Quanto mais cara a entrada, mais vantajosa se torna a fidelização. Para assistir a um jogo no setor de arquibancada do Couto Pereira, por exemplo, paga-se R$ 60. Optando pelo plano de sócio, são R$ 54, com direito a assistir a todas as partidas no mês.
"É uma série de estratégias para obrigar a pessoa que ia uma vez ao jogo, e não se associava, a contribuir com o clube. Se o torcedor prefere ir ao campo, se obriga a ser sócio", explica o gerente de inteligência de mercado esportivo, Frederico Guaragna. Ele cita o exemplo do Barcelona como o mais "inconveniente", afinal somente associados entram no Camp Nou.
Mesmo que de forma discreta, os clubes comemoram esse momento, fundamentalmente no aspecto financeiro. Com a renda do público definida, de preferência já no início de cada temporada, a agremiação consegue se planejar a médio e longo prazos, sem ficar sujeita a fatores externos, como jogos com menor apelo ou chuva, por exemplo.
O primeiro jogo de uma criança no estádio é o que muitas vezes define a perpetuação da espécie. Sem lugar nas arquibancadas, porém, a nova geração de atleticanos, coxa-brancas e paranistas está ameaçada. Se a associação em massa atingir o limite, quem virar torcedor terá de se contentar em assistir às partidas pela televisão ou aguardar a oportunidade criada por um sócio ausente ou inadimplente.
"Brevemente teremos de limitar ou suspender [a venda de ingresso] porque não teremos mais lugar", afirma o superintendente administrativo do Coritiba, José Rodolfo Gonçalves Leite, adiantando que o clube terá de pensar em uma forma de não inibir futuros coxas-brancas.
"Por volta dos 30 mil sócios [hoje são cerca de 18 mil adimplentes, com capacidade liberada para cerca de 35 mil pessoas no Couto Pereira] vamos fazer uma análise de como seguir. É importante a rotatividade na torcida e por isso precisamos de um pedaço do estádio para desenvolver ações para atrair novos torcedores."
Por ora o Atlético, com a Arena mais perto da lotação máxima 20.580 cadeiras ocupadas em uma capacidade liberada de cerca de 25 mil , só oferece mesmo os lugares que estejam vagos. Mas aposta no extra-campo para angariar novos fãs. "Hoje, fenômenos da internet e meios de comunicação fazem com que a experiência com o clube esteja em todo o momento da vida do torcedor", comentou em nota o Rubro-Negro.
O Paraná, ao contrário, ainda vê no plano de sócios uma forma de fortalecer a torcida, e não limitá-la, como deixa claro o vice-presidente de marketing do clube, Vladimir Carvalho. "Temos um estádio para 20 mil pessoas e estamos buscando aproximar e trazer a torcida em potencial, que hoje está distante. Vamos trabalhar forte nisso para aumentar o banco de associados."
Impasse sobre apoio a Lula provoca racha na bancada evangélica
Símbolo da autonomia do BC, Campos Neto se despede com expectativa de aceleração nos juros
Copom aumenta taxa de juros para 12,25% ao ano e prevê mais duas altas no próximo ano
Eleição de novo líder divide a bancada evangélica; ouça o podcast