Há tempos as torcidas organizadas se tornaram concorrentes dos clubes na geração de receita. Uma simples passada de olhos nas arquibancadas dos estádios de Curitiba em dias de jogo é suficiente para ter noção do poder de penetração das marcas de Império Alviverde, Os Fanáticos e Fúria Independente entre os fãs de Coritiba, Atlético e Paraná, respectivamente.
"Com certeza pelo menos um terço dos torcedores estão vestindo algum produto da Império", diz um funcionário do Coxa, que, em meio ao turbilhão em que se transformou o clube após o episódio de selvageria que marcou o fim da partida com o Fluminense (6/12), prefere ficar no anonimato cenas de violência em parte criadas por pessoas ligadas à principal uniformizada do time do Alto da Glória. "A concorrência existe, sim. Não há o que discutir. Desafio quem fale o contrário", ressalta Roberto Pinto, gerente de marketing do Coritiba, há menos de seis meses na função.
O raciocínio é simples. Toda vez que os torcedores compram algum item da vasta linha de produtos com os símbolos de Império, Fanáticos e Fúria, o dinheiro fica com as organizadas. Por usarem apenas as cores e não os escudos dos times, as facções ficam liberadas de pagar royalties. E, o que é pior, tiram das lojas oficiais um potencial comprador normalmente 8% do valor de uma camisa original vai direto para os cofres dos clubes. "Como o produto não é licenciado, (os torcedores) estão tirando uma parte do dinheiro do clube", alerta Roberto.
Do outro lado, as uniformizadas se defendem alegando que o valor arrecadado serve, em grande parte, para "colorir e bancar as festas nas arquibancadas". Juliano Rodrigues, vice-presidente da Fanáticos, conta que, em um mês de vendas em alta, a loja da organizada chega a gerar um lucro de R$ 5 mil a R$ 6 mil. "Mas nem sempre é assim. Em muitos momentos fechamos no vermelho", revela. "Como não temos vínculo financeiro com o Clube Atlético Paranaense, todo o dinheiro é revertido para a associação, para melhorar a estrutura disponível aos associados", acrescenta ele, citando a reforma da própria loja e o arrendamento de uma sede campestre, em Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba, como investimentos recentes da facção.
A reportagem entrou em contato com Luiz Fernando Corrêa, o Papagaio, presidente da Império Alviverde. O torcedor avisou, porém, que não se pronunciaria sobre o assunto. O mesmo procedimento foi adotado pela diretoria do Paraná.
Incomodada com a competição econômica, a dupla Atletiba já se arma para avançar sobre o principal filão da concorrência produtos com preços mais populares. "Já solicitamos à Umbro (fornecedora de material esportivo) materiais diferenciados, para atender a uma classe com menor poder aquisitivo", explica Roberto Karam, coordenador de marketing do Atlético. "Estamos desenvolvendo um trabalho muito forte de consolidação da marca Coritiba e, ao mesmo tempo, da importância dos produtos licenciados. Vamos buscar um pouco dessa receita da Império, atingindo a todas as classes", emenda o coxa-branca Roberto Pinto.
Imagem negativa
Mesmo sendo sucesso na venda de produtos, as organizadas seguem com sua imagem ligada à insegurança nos estádios, percepção que deve aumentar após os episódios do dia 6. Pesquisa realizada no fim de novembro em 26 estados e no Distrito Federal pela TNS Sport Brasil, empresa especializada em levantamentos esportivos, indica que 91% dos curitibanos associam a violência relacionada ao futebol às facções. Apenas Santos (95%) e Florianópolis (91%) aparecem à frente da capital paranaense.
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