Das duas, uma: ou o menino tem futebol de adulto ou não tem; se não tiver, não pode ser promovido, óbvio, não?

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– O que vem a ser futebol de adulto?

– Saber jogar coletivamente. E, claro, saber se colocar, saber se deslocar, saber a hora de aparecer, de partir, essas banalidades.

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Ocioso acrescentar a importância da habilidade, da intimidade com a bola, da técnica; seria craque de nível global se pudesse "jogar sem bola", apenas; mas a maldita me atrapalhava, indomável, rebelde, fugidia como a deusa que nos é indiferente. Para mim, a bola era "cigana má, cruel e caprichosa./Gostava de ver minha alma envenenada/O seu prazer era me fazer sofrer".

(...)

Só Deus sabe as propostas humilhantes de amor, amizade, estima, consideração, que fiz a ela; em vão. Ridículo, sublime, peguei um ita no norte fui pro gol jogar.

Ah! O gol! Sítio dos que não jogam bola, maldito – onde o goleiro pisa não nasce grama, a grama não vinga, não floresce. Bem feito. Quem mandou ser incapaz de fazer sequer três embaixadas sem deixar a peteca cair.

Que guarda-redes fui! Míope, sem óculos, inconformado com o gueto, revoltado com o estábulo a que condenam os keepers! Eu, hein? Aqui, ó! Para cima de mim, violão?

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Abandonava a área, saía pro limpo, ía ao ataque, pedia a bola, queria participar da brincadeira, deixava loucos os companheiros.

Um dia porei meu ovo de Colombo: com keeper "jugador" nosotros podemos establecer real ventagem numérica siempre que deternemos la pelota*. Adeus, gol! Adeus, áreas maior e menor! Adeus, meia-lua! Libertos dos grilhões que os aprisionam como perus na roda, os goleiros serão peças decisivas nas armações ofensivas. E nesse dia, então, dará na primeira edição – cena de sangue e ciúme na avenida São João: o joguinho será finalmente 11 x 11. E não essa coisa mofina, mesquinha, pobre, de onze pra cada lado.

Batuquei quase uma coluna como monstruosa introdução ao: se o Keirrison, artilheiro do Cori na Copa São Paulo de Juniores, tem futebol de adulto e físico pra agüentar o tranco, então não deve esperar um segundo para ser promovido. Pois se ele ainda não está "preparado" para ser titular da atual equipe, então nunca estará preparado para nada de grande no velho, rude esporte bretão.

Nota

* Estou a escrever em portunhol como uma maneira modesta de homenagear os grandes keepers argentinos. Não espalhe, cara pálida, mas nunca tão poucos produziram tantos keepers quanto eles. Que podem tranquilamente enfrentar uma seleção do mundo de todos os tempos. E batê-la nesse quesito – keepers.

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