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Falemos da bola – isto mesmo, da bola e não de bola, da bola, balão de couro, esférico em Portugal, criança pros íntimos, Leonor pro falecido Didi, número cinco para veneráveis velhinhos, falemos da caprichosa bola, da democrática bola que rola para todos os lados, cega como a Justiça, perfeita na sua – como direi? – esfericidade?

– Uuuuuu! Que baita palavrrron, como diria o gaúcho da fronteira com Xanxerrê&Xampecó – dupla de música (?!) brega-romântica (brega é o romântico por excelência, romântico é o brega por excelência, e vice-versa). Que tal redondidade? Piorou... Bem, falemos da bola.

Nos anos em que ainda comemorava meu aniversário, as bolas tinham tento, couro, cheiro, cor. E eram conhecidas nas poucas, nas raras, nas boas casas do ramo como bolas de capotão, sabe lá o que é isto?

Com chuva, frio, barro, com sol&sereno, com a prática, usos&costumes, elas engordavam, perdiam a cor, a forma, o viço, o vinco, amarrotavam, passavam do círculo perfeito ao ovo com bócio (papo em Latim vulgar), viciado como os dados de Atlantic City.

Ai de mim, sou do tempo em que as bolas tinham cores, várias cores, mas não muitas, poucas, boas, uma de cada vez, a amarela, a vermelha, a branca.

– Ah! Meu miserável reino pela bola branca, totalmente branca, completamente branca, somente branca, necessariamente branca, suficientemente branca, auto-suficientemente branca, branca que te quero branca, de pele branca, de pelo branco, de penugem branca, de axelhos brancos, imaculadamente branca, virginalmente branca, que se basta branca.

– Ah! Meu pobre, mortal reino pela noturna bola branca, boêmia, amante da noite, da madrugada, pálida, bola inimiga do dia, avessa à tarde, com ódio ao sol, da sua luz, do seu calor, do seu horror, do seu terror, do seu rigor, do seu suor. Branca bola seduzida pelo lúmem, pela chama, pela luz, humana luz, do engênio (sic) humano! Aleluia!

Sim, sou do tempo da bola branca. Bola branca que virou língua geral, pau para toda obra, panacéia universal, onipresente, ubíqua. Bola branca que varreu do mapa as co-irmãs, que monopolizou clássicos e peladas, as cidades, campos, estádios, aqui, ali, lá, acolá, a Oropa-França-Bahia. Como uma praga, uma epidemia.

De repente, o silêncio. E a retirada. Irrestrita. Sem deixar rastro, traço, traça, vestígio, sem dar bandeira, sem choro nem vela, sem camisa amarela, sem olhar pra trás, sem se despedir, à francesa. Que tristeza.

Onde está, cara branca? Em que bramas/em que brumas/em que bromas? Meu reino pela bola branca.

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