• Carregando...

O velho Borges, Jorge Luís Borges, repetia não sem leve toque de coquetismo, não sem piscar cúmplice: "Que os outros se orgulhem dos livros que escreveram, eu me orgulho dos livros que li."

Para parafrasear o Borges, direi que me orgulho dos leitores que tenho... Segundo o matemático Oswald de Souza, além do "Lux Jornal" lêem o locutor que vos fala: Leonardo, editor de esportes, e o revisor que "corrige os erros do meu português ruim".

Verdade, tenho de fazer justiça com as (im)próprias mãos, de vez em quando, nos anos bissextos, uma alma piedosa se digna a dar olhada nessas tão torturadas mal traçadas. Oh! Quanto riso! Oh! Quanta alegria! Quer compartilhar com o escriba e fariseu o prazer de algo inteligente?

Na sexta-feira, no apagar das luzes, quando me preparava pra voltar para casa abatido, desconsolado da vida, eis que pinta o e-mail aí debaixo, que tomei a liberdade de transcrever com pequenos cortes:

Prezado Pessoa:

"Li sua coluna. Permita-me meter o bedelho. Por que somos bons de bola ou por que produzimos tantos bons jogadores? Sua resposta (corretíssima), foi: clima e paixão.

Data vênia, faltou citar mais dois motivos: pobreza e improviso. Isso mesmo, pindaíba e jeitinho brasileiro. Porque tênis, beisebol, golfe, etc. são coisas de bacana; Vôlei precisa daqueles dois mastros, cavar um buraco, esticar rede que insiste em ficar caindo feito pelanca. Depois precisa desmontar tudo, carregar nas costas, guardar. Tô fora! Depois de bater bola vem a cerveja, não o trabalho.

E o futebol ? Ora, dois pares de chinelos velhos (isso mesmo, chinelo, pois sandália é coisa de rico) fazem papel das traves, uma bola velha, murcha, e nada mais. Esta feita a bagunça, na base do improviso. Quanto custa isso? Nada. Se custasse alguma coisa, a pindaíba geral não permitiria.

Ora, americano, europeu, japonês não aceitam improvisos deste tipo. Tem que ter referee, first-aid, coach, nada da esculhaçon.

É isso aí."

Claudio Massayuki Hagi

Antes da glosa, pequeno reparo: não acho que a explicação para o fato de produzirmos tantos craques possa ser reduzida ao clima e a paixão, pois não ignoro a importância da mistura racial nem a da demografia.

Sobre miséria e jeitinho, o Cláudio expôs afortunado exemplo de redução sociológica, para lembrar a criação do Guerreiro Ramos. Que pregava a adaptação das bolações estrangeiras às nossas necessidades, recursos, peculiaridades. O velho e rude esporte bretão foi mais que aculturado; foi deglutido, antropofagicamente. Deu no que deu. Olé.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]