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Olha, ando preocupado com a nossa tendência de bolar nomes próprios, de misturar nomes próprios, de dar nomes – como direi? – bizarros à filial prole. Com exagero, às vezes acho essa longa onda semelhante a um flagelo, como as secas que abateram a Irati da minha infância ou a praga de gafanhotos da mesma época.

A propósito, já ouviu falar de Alex Bellos? É excelente jornalista inglês, correspondente do "The Guardian" e do "Observer". Certo?

Um dia ele desembarcou no patropi, no Rio de Janeiro, vindo de Londres, a trazer na bagagem sua paixão inglesa pelo velho, pelo rude esporte bretão. E deu de cara com a maneira brasileira de jogar bola.

O choque cultural, mistura de deslumbramento com amor* à primeira vista, o levou a escrever em 2002 o livro "Futebol: The Brazilian Way of Life". Oportunamente lançado pela Jorge Zahar Editor na tradução do Jorge Viveiros de Castro, sob o título (talvez mais próximo do conteúdo do livro) "Futebol – O Brasil Em Campo".

Li o bicho (348 páginas) de cabo a rabo graças ao presente do Sylvio Ronald no final de 2003; Sylvio (com ípsilom, sabe lá o que é isso?), mais uma vez obrigado.

É claro que recomendo o dito; vale a pena lê-lo. É visão muito simpática do Brasil, da gente. Que (quase) nos (re)concilia com a pátria amada, idolatrada, salve, salve.

Dos (im)próprios nomes

Dos capítulos mais interessantes é o décimo. Com o enganador título "O gol inconfundível" – páginas 199 e sgs.

O inglês começa com a nossa mania dos apelidos, de dar apelidos, de chamar pelos apelidos, de adotar apelidos. É um não acabar mais de bizarrices, sarros, deboches, loucuras, besteiras, ignorâncias, simplórias homenagens. Exemplo: ex jogador do Íbis, Mauro, incorporou o apelido "Shampoo"... nas horas vagas era cabelereiro...

Em seguida o inglês passa para os impróprios nomes próprios. Colhidos na secção de registros da CBF. Nos dias pares sorrio; nos ímpares tenho vontade de chorar. Quer ver? Afrouxe o cinto, recline a poltrona, relaxe, aproveite.

O festival começa com Belziran, passa por Elerubes, lembra Aderoílton, recorda os singulares Amisterdan, Wandermilson, Wellijohn! E vai embora. Até o z. Abrilhantado por Zicomengo (sic).

Não são exceções! É a regra: sete em dez a tchiurma prega-lhe algo parecido. Como o emblemático Odvan. Homenagem à canção do Roberto, O Divã.

Nota

* Pro grande espanhol don José Ortega y Gasset, amor é atenção + encantamento. E é um só, único, exclusivo. Pois como escreveu à náusea o Nelson Rodrigues, "se acabou não era amor".

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