O amigo Walmor Marcelino mandou o texto "Farofas também no futebol". Que adaptei à coluna; confira.
"Com a desmedida pretensão de corrigir a crônica esportiva, me lancei em 70 à aventura de fazer livro sábio sobre A Copa e a Crise do Futebol Brasileiro. Em parceria com Carlos Alberto Pessôa. De nada adianta explicar as causas de nosso desatino: a defesa brasileira era frágil; Clodoaldo, o único volante a se articular com Rivellino, Gérson, Pelé, fazendo a primeira linha de defesa. Quem imaginaria Rivellino em funções defensivas?
Não foi apenas o sol do meio dia sobre os crânios europeus nem Félix se superando ou Tostão Pelé a exigir quatro na marcação, nem Alemanha e Itália fazerem maratona de duas horas às vésperas da decisão. Tampouco hoje a nova geração de nacionaleiros entende como um jogo em câmara lenta teria mostrado (em cortes de noticiário) a nossa sempre exaltada superioridade sobre os gringos.
Recentemente, Pelé, vaidoso com o título exótico de Rei do Futebol, decidiu promover-se, enaltecendo sua técnica insuperável através do elogio à seleção de 1970; e menosprezando a atual geração. Quanta toleima! Uma equipe e, mesmo, jogadores, são resultado de sistemas, escolas, táticas em uma época; o talento se acrescenta ao conjunto. A apenas alguns foi atribuída a condição especial de comandar, decidir jogos: Garrincha, Beckenbauer, Maradona...? Não há como comparar desempenhos fora da história. Por isso só cabem títulos de rei ou rainha para atriz ou miss; depois vem outra...
Com dúvidas e ressalvas (como a veteranice de Roberto Carlos), Everaldo, Piazza, Brito não deveriam ser cotejados com os atuais: Carlos Alberto e Cafu guardam diferenças apenas de função, estilo.
Jairzinho, Rivelino, Clodoaldo eram muito bons, porém sua excepcionalidade fica na cabeça de quem diz. Quanto a Pelé... bem...: Didi-Garrincha fizeram nosso superávit em 58; Garrincha o de 1962; Tostão, Pelé, Gérson o de 70.
Hoje, Ronaldinho, Ronaldo, Kaká, Robinho e Adriano são o diferencial. O meio-de-campo não pode ser apenas técnico; tem de carregar o piano e o fagote (à falta do 1.º violino, de um Alex) porque não tem barítono ou maestro à espera dos aplausos.
Por conta do destino não caímos diante da Espanha em 62, da Itália em 94, da Bélgica e Turquia em 2002; esperemos que a Fortuna nos sorria, com a certeza de que apenas uma seleção de nosso tempo inovou pela tática, não pela genialidade de algum astro: a Holanda/74. A fantástica Hungria jogava por música, mas não renovou o futebol. O resto é folclore..."