Viu o Garrincha jogar? Era o samba de uma nota só "avant la lettre", isto é, antes do samba de uma nota só ir ao ar, vir à luz, ver a luz. Além do meio-de-campo, rente à lateral, à espera da bola chegar ao pé direito; dominada, partia pro pobre marcador; uma ou mais fintas antes do toque pra direita, seguido da irresistível arrancada, da escalada ao fundo, do previsível desenlace: cruzamento pra área.
Viu o Maradona jogar? Peladeiro tipo Sacy-Pererê, isto é, uma perna só a serviço de delírios de individualismo. (Boa pergunta: não passava a bola por egoísmo ou por jogar de cabeça baixa, não enxergar palmo adiante do nariz?)
Pois não é que numa madrugada dessas tive o desprazer de ver e ouvir num canal fechado de tevê velho profissional da crónica (sic) coloca-los ao lado do Pelé... Pior! Sem ser contestado por quarteto de coleguinhas ao redor!
O grande, saudoso, Roberto Campos repetia: "todos temos direito às nossas opiniões, mas não aos nossos fatos".
Ora, as opiniões, pura, simplesmente, se equivalem: valem pouca coisa ou coisa alguma. Nesse sentido posso vir à boca da cena, urrar: na minha opinião o Cafuringa foi melhor que o Pelé piada e/ou besteira.
Felizmente, esta não é uma questão subjetiva, de gosto (não gosto), de opinião ou de "eu acho"; nada disso! Esta é uma questão objetiva. De fato. De fatos. E os fatos à mão, facilmente verificáveis por quem quiser observá-los os fatos apontam escandalosamente pro seguinte: Pelé não foi apenas melhor que o Garrincha ou o Maradona. As suas qualidades eram superiores às do deles somadas! O que faziam de melhor ele fazia de olhos vendados, com pé nas costas.
Exagero? Então leia o que os excelentes jornalistas da argentina "El gráfico"* escreveram no já remoto ano da graça de 1958?
Sob o título "O deslumbramento da Suécia", batucaram essas bem traçadas linhas (tradução minha, CAP): "Nasce no Mundial da Suécia um jovem rei do futebol. Chama-se Edson Arantes do Nascimento, apelido Pelé, tem 17 anos e já sabe tudo o que deve saber um craque. Porém, além de saber tudo é capaz de INVENTAR TUDO" (maiúsculas do original, CAP).
O que inventaram Mané&Diego? O Negão inventou a paradinha no pênalti, o passe de peito, a tabelinha com as pernas adversárias, a tabelinha trançada, a cabeçada de olhos abertos, a matada/ajeitada, um jeito pessoal e intransferível de comemorar gol, o chute do seu campo, o corta-luz-faça-se-a-luz. (Segundo só nas faltas; Nelinho é the top; no mais é the best, sorry.)
Nota
* Melhor latina no gênero.
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