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Não sei se confessei aqui – em muitas coisas sou conservador. À inglesa, à Burke (1729-1797), o grande crítico da estúpida, da sanguinária "revolução" francesa (1789). E, antecipadamente, de todas as que a sucederam. Como a bolchevique (1917).

Burke não era reacionário. Empolgante advogado da independência americana (1776), defendia as reformas, uma de cada vez, devagar, sempre, pontuais, delimitadas. Como deve ser. (É puro bom senso: ampla, profunda intervenção pode produzir estragos profundos, amplos e, pior, irremediáveis.)

Em muitas coisas sou conservador: detesto a mudança pela mudança, ditada pelo vazio, tédio, nada. Mudar só pra melhor. Mudar só e quando o ganho for líquido, certo, incontestável. Assim mesmo...

Em muitas coisas sou conservador: detesto modas, modismos, gente na moda, estar na moda, cacoetes da moda, especialmente os verbais. Que reanimam entorpecidas úlceras. Drummond acertou na mosca quando batucou: "Cansei de ser moderno/ quero ser eterno".

Em muitas coisas sou conservador: por exemplo, me oponho frontalmente à quase unanimidade das agora anuais alterações nas camisas dos nossos clubes de futebol profissional. Ocioso acrescentar que abomino as mexidas periódicas no uniforme da "pátria de chuteiras", a seleção brasileira de futebol. Pronto, cheguei ao meu tema*.

Com exceção da gola, estilo Mao, gostei da nova edição da camisa do "escrete". Na verdade, uma volta à origem. Bastante corrompida pela penúltima versão, ainda em cartaz: a horrorosa mochila verde é insuperável; a rapaziada caprichou.

Não esqueça: a camisa é amarela, não amarela-e-verde. O verde só adentra ao tapete da mesma cor como Pilatos no credo; pra compor a cena. Número verde na costa (como sustenta, demonstra e escreve o Dalton Trevisan), barra verde na manga, verde na gola. E pronto. Ponto. Final. Mais nada.

Elegância é menos, não mais. Elegância é pouco, não muito. Elegância é o essencial. não o supérfluo. Elegância é economia, não abundância. Elegância é discrição. não escândalo. Elegância é low profile, não cheguei. Elegância é simplicidade. não complicação. É naturalidade, não artificialidade. É comodidade, não saia-justa. É harmonia, não clarinada. Elegância é felina, não é bovina nem canora. Elegância é Portela, não Mangueira. Elegância é é, não não.

Nota

* Amanhã escreverei sobre "hands", mão na bola – sugestão do Luiz Groff, sempre um crítico perspicaz. O título será "voto com o relator". Aguarde, cara pálida; prelibe; comece a gastar por conta – você não se arrependerá.

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