O zelador interino do prédio onde moro é atleticano, seu nome é Juarez, míope da pesada (apenas 18 graus em um dos olhos), voz disparatada. Que acompanha cerce as peripécias da sua paixão, especialmente as possibilidade da vinda do Matthäus, o ex-craque alemão, campeão do mundo em 90, na Itália. (Não lembro direito, acho que foi eleito também o melhor da Copa, não?)
Como a quase unanimidade dos torcedores de hoje em dia (troca o craque só por causa da boemia), Juarez acredita em Papai Noel e almoço grátis. Isto é, dá desmedida importância aos treinadores, ao treinador*, ao "treinero", ao "homem" como os irreverentes jogadores de antanho se referiam a essa(s) figura(s).
O curioso é que atingimos a mesma meta a partir de pontos de vista opostos: Juarez é excessivamente rigoroso; logo, nenhum treinador o satisfaz; o locutor que vos fala aceita qualquer um por achar todos iguais, japoneses. Vejamos o Matthäus.
Mateus, Modos, Métodos
O que esperar do ex-craque alemão nos tristes trópicos? Temos algo a aprender com ele? Minha resposta é duplo sim: sim, podemos aprender modos (ou maneiras), bons modos ou boas maneiras; sim, também podemos aprender métodos, bons métodos de treinamento.
No mundo todo, e de acordo com a lei do joguinho, é permitido ao treinador vir à boca da cena vender seu peixe aos jogadores e voltar para o banco de reservas. Infelizmente, essa lei universal aqui não pegou, aqui não emplacou. Pois aqui os treinadores ficam o tempo todo à beira do gramado, a urrar asneiras para os rapazes, a pressionar o bandeirinha e árbitro, a se exibir como prima dona decadente em busca de um pouco de audiência num teatrinho podre de um burgo podre do último e podre reduto podre. Como dizem as meninas de agora, os treinadores estão se achando. Pensam que fazem parte do espetáculo. Acham que alguém vai ao campo pra vê-los encenar a irritante farsa. Senta, cara pálida! Senta que o leão é manso.
Por que os nossos árbitros não botam os treinadores nos seus devidos lugares? Por que os nossos árbitros não cumprem a lei do jogo? Por quer não adotam dois toques? Primo, advertência; secondo, expulsão.
Dez em nove treinadores brasileiros ainda estão naquela do coletivo, algo equivalente ao paleolítico inferior. Pior! Eles ainda fazem, usam, o assim chamado "coletivo-apronto". Pode, Clóvis? O Matthäus certamente ultrapassou essa tardia fase.
Nota
* A cada dia que passa, mais me convenço da correção da afirmativa: em equipe de craques, o treinador é supérfluo; em equipe de cabeças de bagre, inútil.
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