A mais longa pré-temporada do mundo, mundo, vasto mundo está "por una cabeza": terminará no domingo, agora, nove. Ufa. Gracias, senhor. Já não era sem tempo.
Há quase 40 anos Valmor Marcelino e o locutor que vos fala escreveram um livro que ninguém leu e que ninguém gostou: "A Copa e a crise do futebol brasileiro", que almas maliciosas rebatizaram "Por que vamos perder a Copa?"
E lá, às páginas tantas, pregávamos um pouco de racionalidade no caótico, no congestionado calendário do futebol profissional no Brasil. Entre outras coisas, queríamos mais espaço entre as férias e o início da temporada, algo como três semanas, mínimo pra uma mínima preparação para quando o inverno chegasse. A parafrasear* lady Astor - nós pedimos tempo, mas nessa quantidade é simplesmente ridículo.
Por que ridículo?
Porque além das canônicas quatro semanas de férias, agora a pré-temporada vai até o final da primeira semana de abril, "o mais cruel dos meses". No total quase 20 semanas se lembrarmos que os trâmites são encerrados na segunda semana de dezembro.
Não é à toa que a quase unanimidade dos clubes está quebradinha. Não é à toa que todos os nossos craques jogam lá fora, sem uma única e escassa exceção. Não é à toa que nenhum clube brasileiro é capaz de resistir a mais indecente proposta de compra de jogadores. Não é à toa que todos os clubes rezam, torcem, fazem figa, despacho, promessa para que o último europeu desembarque na larga costa com um punhado de dólares e arremate na bacia das almas a penúltima** revelação tupiniquim. Não é à toa que ano a ano os nossos imensos estádios ficam cada vez mais vazios. Não é à toa que o "maior campeonato do mundo" é também o mais violento e provavelmente o mais chato do mundo. Não é à toa que a elite dos clubes brasileiros está nivelada pelo baixinho, pelo futebol do Romário na sua interminável sobrevida de ex-atleta. Não é à toa que o Brasil teve já mais futuro no seu passado. Não é à toa que os nossos meninos - todos! - sonham jogar lá fora. Não é à toa que sequer sonham voltar e aqui jogar, exceto amistosos de caráter beneficente. Não é à toa a pobreza. Não é à toa a miséria. Não é à toa o atraso. Não é à toa.
Nota
* Lady Astor, do celebérrimo Waldorf Astoria, estaria no Titanic. E minutos antes do desastre teria pedido gelo. Seu comentário "eu pedi gelo, mas nessa quantidade é realmente ridículo".
** Piadinha que me contaram ontem: o clássico marido traído não é mais o último a saber; agora é o penúltimo. Pois o último é o Lula.
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