Há semana batuquei sobre as perguntas feitas pelo "Valor Econômico" a personalidades acadêmicas-esportivas: Por que somos tão bons de bola? Por que produzimos tantos craques? Lembra?

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Às respostas população-miscigenação, acrescentei clima e paixão, além do esperto lembrete do leitor Cláudio Haji: pobreza e jeitinho. Lembra?

Hoje, domingo, e para não perder velho mau hábito, ferirei o orgulho nacional, tocarei numa ferida que a gente finge ignorar, que fazemos de conta que não existe. Estou a me referir aos dois fenômenos do rio do Prata, Argentina e Uruguai. Com licença.

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Antes de prosseguir, advirto: não exporei opinião, não se trata de opinião, de mais uma opinião ou da minha opinião; trata-se, oh, não!, trata-se de fatos, dos obstinados fatos, dos insubornáveis fatos. Vamos a eles, cavalheiros; aos fatos.

Os fatos são os seguintes: os argentinos são tão bons de bola quanto nós! (Dói, cara-pálida?) Os argentinos produzem (em números absolutos) tantos craques quanto nós! (Dói mais um pouco, cara-pálida?) Os argentinos, e os uruguaios mais que eles, nos dão surras de criar bicho, de juntar gente, se considerarmos a relação população/ craques. (A dor é suportável?) Matei a cobra; mostrarei o pau.

É verdade, nós somos cinco vezes campeões do mundo entre seleções: três sob o reinado do Crioulo! Em compensação, tanto Argentina quanto Uruguai nos batem facilmente em número de campeonatos sul-americanos, agora Copa América. E a Argentina também nos vence em conquistas pan-americanas. Preciso lembrar que o placar dos jogos Brasil–Argentina continua apertadíssimo? Com vantagem de uma ou duas vitórias no máximo?*

Quando passamos aos clubes, às competições entre eles, a vantagem argentina é folgada, doída; os uruguaios mordem nossos calcanhares. Tempo.

Qual a população do Uruguai? Menos de quatro milhões! Pouco maior que a da região metropolitana de Curitiba. Qualquer comentário é supérfluo.

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Como estou com a mão na massa, qual a população argentina? Menos de 40 milhões! Pouco menor que a de São Paulo, o estado.

Desses irritantes fatos segue-se que problema mais interessante é descobrir por que Argentina e Uruguai são tão bons de bola, por que produzem tantos ou mais craques que o Brasil com populações bem menores, homogêneas, em clima mais frio? Ai, mamãe! Que pasó? Bom domingo.

Nota

* A indisputável autoridade mundial nesse páreo é o dr. Régines Prochman. Autor do livro "Argentina–Brasil: a eterna guerra do Prata". Que deveria estar nas bancas e boas casas do ramo.