Por que os campeonatos estaduais estão quase todos tão equilibrados? Ou para usar a frase preferida por dez em nove estrelas do jornalismo verde-amarelo nivelados por baixo? Tenho uns palpites, tenho chutes a dar. Ou se você quiser, tenho uma tese a defender. Com licença.
(O cara que inventou o cortador de grama deveria ser condenado à prisão perpétua com direito a ouvir 24 horas o insuportável barulho. Prefiro o velho, o bom carneiro que ainda por cima nos fornece o tímido berro e a nunca assaz louvada lã. Segundo as boas línguas, o insuperável cashemere inglês nasce no pescoço do bicho. Aleluia.)
Meu palpite é o seguinte: o craque faz a diferença. Como não há mais craques no Brasil, os clubes caem na vala comum, se nivelam, ficam japoneses. Do Oiapoque ao Chuí. Sem esquecer a linha leste-oeste, claro.
Este fenômeno produz um curioso efeito colateral: elimina a assim chamada zebra ou o assim chamado azarão. E não torna mais previsível o joguinho; ao contrário. (Só o placar ainda pode nos surpreender. Ou para ser mais preciso, só as goleadas nos derrubam.)
Não há diferença
Pouco depois de ter sido apresentado ao Russo (Adolfo Milman) pelo Carlos Nasser, fui afortunada testemunha de uma observação inesquecível, óbvia, ululante somente em seguida à sua articulação, que transcrevi no intertítulo aí de cima.
Estávamos na Fiorentina, no Leme, no Rio, uma mesa de tricolores a cobrar do mestre a preterição do Denílson pelo Piazza na última chamada da seleção que iria ao México atrás do terceiro caneco.
Além do locutor que vos fala e do já citado Carlos Násser, compunham o júri Marcelo Soares Moura, o filho do Russo, Fernando, e por último, mas não o menos importante, ao contrário, o imenso Nelson Rodrigues. Que interrompeu o tiroteio com aquela sua voz cava e comandou:
Patriotas, vamos ouvir o sábio, vamos ouvir o Russo.
E o grande mestre, então supervisor do escrete, disse simplesmente o seguinte:
Não há muita diferença entre o Piazza e Denílson. E se houver, é favorável ao Piazza. Por que brigar por isso? Escandaloso seria a não convocação do Tostão ou do Gérson ou do Rivelino... Isso para não falar do Pelé.
Sacou o saque? Em outra ocasião, dissertou informalmente sobre a maciça realidade da homogeneização ou da mediocrização (ele não usou esses palavrões): o grosso da tropa é constituído de atletas equivalentes, de nível médio. O resto, de jogadores acima da média, e alguns raros, muito poucos, os craques. (Como não há craques, segue-se o nivelamento. Concluo.)
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