• Carregando...

Descobertos pelos maravilhosos portugueses em 1500, precisamos de apenas 455 anos (por extenso, quatrocentos e cincoenta e cinco) para nos tocar que nesse imenso pedaço dos tristes trópicos faz calor, especialmente no verão, mui especialmente entre as dez da manhã e as quatro da tarde, horário de Brasília, horário corrente, normal, de todos os dias. Aleluia!

Como estou com a mão na massa não custa nada aproveitar o embalo para fazer justiça aos autores intelectuais da incrível descoberta do calor tupiniquim, do calor verde-amarelo-norte-sul. Os pais da criança são os cronistas esportivos. Ou para ser mais exato: o pai da criança é a crônica esportiva – como direi? – como um todo*.

Como um todo talvez seja exagerado, afinal de contas, o grosso das pesquisas, lavras, caminhos da grande marcha e grande luta foi conduzida, percorrida pela crônica esportiva carioca na segunda metade dos anos 50. A partir dali, os jogos no Rio de Janeiro passaram a começar não mais as três, mas as cinco em punto de la tarde, horário cotidiano. Aleluia!

Mudou o clima ou mudamos nós?

Deixemos um pouco de lado o aspecto caricatural dessas mal traçadas; rememoremos: no Rio de Janeiro da "República Velha", no Rio pré-30, a chamada elite envergava pesados-fraques-e-pesadíssimas-cartolas! (Numa das poucas fotos do Machado de Assis velho, damos de cara com o grande mestre enfarpelado em grossa casimira. O Brasil não descobrira o calor... O clima do Rio não era tropical atlântico...)

Meio século depois da grande descoberta da crônica esportiva carioca, eis senão quando as novas gerações tudo esqueceram: o Brasil volta a ignorar o calor, o verão, a enterrá-lo, a fazer de conta que não existe, que foi fenômeno passageiro. Pelo menos no movimentado mundinho do velho, do rude esporte bretão entre nós. Que na metade da segunda década do terceiro milênio decretou: os jogos de futebol profissional devem começar quatro da tarde do horário de verão. Isto é, três da tarde do horário canônico. Como praxe até 1955.

E agora? Agora passo a palavra aos jogadores, aos torcedores, ao sindicato dos jogadores, a OAB, às milhares de ONGs que vivem dos direito humanos, à possível pastoral dos craques e cabeças-de-bagre e, por que não?, à sociedade protetora dos animais. Falem!

Nota

* Lembrei o abominável cacoete lingüístico em homenagem ao saudoso João Dedeus Freitas Neto. Impagável e bem humorado perseguidor de besteiras como esta. Irmã gêmea da "sociedade como um todo". Que fazia Freitas rolar de rir de indignação.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]