Em time de craques o treinador é supérfluo; em time de cabeças de bagre o treinador é inútil. Mais (ou menos): todos são japoneses. Do Oiapoque ao Chuí. E entre os pólos.

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– Exagero? Então explique por que equipes e seleções – urbi et orbe – jogam exatamente da mesma maneira? Ou com desprezíveis diferenças?

Não vem que não tem! Só cronistas esportivos, só jornalistas esportivos, só profissionais do rádio e tevê levam a sério o febeapá* de 4–4–2, 3–5–2, 4–4–3, e o resto, e tudo!

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Atacados, todos se defendem com sete, oito jogadores! Contra-atacam quando e se possível (como lembrava sabiamente mestre Russo). Atacam com três, quatro, apoiados por quatro, três. Na hora do sufoco todos pra frente, pra área. Ou todos pra trás, pra área. E dá-lhe centrões. E dá-lhe chifradas. Que mesmice. Que chatice. Que tédio. James! Meus sais!

Sou do tempo que os jogadores se referiam debochadamente aos treinadores como treineros. Eram profissionais conscientes da sua importância e a quem repugnava o servil tratamento de "professor".

Os treineros podiam ser classificados numa dessas três categorias: atrapalha; não atrapalha; ajuda.

Claro, o percentual de treineros que ajudavam era inferior a 10%; o dos neutros, 25%; o grosso da tropa ficava com 65%.

Infelizmente, esses conservadores números pioraram bastante desde o advento dos "teóricos", com aspas e no sentido pejorativo da palavra. Tipo ... bem, deixa pra lá, cala-te, boca.

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Gente incapaz de fazer uma única embaixada, que desmaia com cheiro de zigue, que não distingue o Pelé do Zoca, que fala pernóstica e impropriamente num coquetel do Coalhada + Odorico Paraguassu á sério.

Esse flagelo é turbinado pela inestimável ignorância-burrice dos dirigentes, cartolas. Pessoal de cabeça (?!) feita pela nova (?!) crónica (sic). Carinhas que acham o Vãoder tão ou mais importante que o Ronaldinho, o Imersão tão ou mais importante que o Fenômeno! Carinhas que confundem o bonzinho com o bom, e tentam se esconder sob sopa de números, flechinhas, besteirinhas.

A propósito. Aparício Viana, olheiro do Saldanha, mostrou ao Russo rabiscos, flechas, sobre os argentinos. O sábio comentou:

– Isso é como fotografia. Futebol é movimento. E perguntou: quem joga, quem não joga no time deles? Quem pode nos perturbar, quem pode nos facilitar?

Moral: hoje os Aparícios abundam e os Russos são espécie extinta.

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Nota

* Febeapá é sigla de festival de besteiras que assola o país. Criação do saudoso, insubstituível Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do grande Sérgio Porto.