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Você certamente ignora o inteiro teor da sentença que levou Tiradentes (1746-1792) à forca. Não se deprima, está em ótima companhia. Segundo o matemático Oswald de Souza, nem o carrasco&seus familiares nem os familiares da vítima nem mesmo os excelentíssimos membros do júri foram capazes de lembrar sequer curtos trechos do memorável texto – o que dizer, então, da plebe rude que na cidade dorme/enquanto janto com o Jacinto/que é também de Tormes?

Para demonstrar outra vez que esporte é cultura, darei tratos à bola, transcreverei as partes que me parecem mais dignas de triste lembrança. Vamos lá? Relax, Rex; não vai doer, prometo.

"... com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca, e nela morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica... até que o tempo a consuma; seu corpo será dividido em pedaços e pregados em postes... até que o tempo também os consuma. Declaram o réu infame, e infames seus filhos e netos... e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada (negritos meus, CAP)... ".

– Que tal? Isso no século (XVIII) chamado das "luzes"! E vamos ao ponto.

Guardadas as proporções, guardadas as diferenças, para mim as punições da velha dama indigna (fifa) aos clubes vítimas de cafajestadas de torcedores são uma regressão pré-Dos Delitos e Das Penas do Beccaria (1738-1794), regressão aos infames anos do pobre Portugal da infame dona Maria, a louca, anos conhecidos como "da viradeira", posteriores à queda de Pombal (1777), e que significaram repulsivo retorno às trevas. A nefanda sentença contra Tiradentes é dessa ignominiosa época.

A burra punição dos portões fechados pode reivindicar lugar de honra na história da estupidez humana.

– O que o clube tem a ver se idiota anônimo no meio de imensa e anônima massa* joga copo de papelão no gramado? Que não atinge nada, ninguém? E que se atingisse não produziria o menor estrago?

– Qual o problema? Como evitar ato como este numa massa de 30 mil pessoas? Proibindo tudo? Pão, água, pipoca, picolé, algodão doce? Obrigando o distinto público ir ao estádio nu, em pelo?

– E a polícia, para que serve a polícia? Por que pagamos tantos impostos se a segurança pública é transferida aos clubes? (No Brasil a polícia fica dentro do campo, protegida pela distância e o fatal alambrado! Nos dias pares rolo de rir; nos ímpares tenho vontade de mudar pro Timor Leste.)

Nota

* O grande Nelson Rodrigues sacou o lance: a massa não tem cara, a massa tem cor.

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