Esta foi a pergunta que "Valor Econômico" fez a um monte de gente: parte apostou na mistura das "três raças tristes", fenômeno execrado pelos estudiosos até o momento em que o Gilberto Freire adentrou ao tapete verde, fez seu brilhante elogio à miscigenação. Isso na metade da década de 30 do século passado.
Outra parte apontou o tamanho da população como provável responsável pela quantidade de craques "made in Brazil".
Curiosamente, ninguém lembrou da girafa nem do elefante: me refiro ao clima e a cultura. Ou à paixão. Vamos vê-los mais de perto.
Não, não somos homogeneamente tropical ou somente tropical há graus: entre os extremos de calor e frio (Norte-Sul), nada no entanto que nos impeça de jogar bola o ano todo. O que não é bem o caso da tchiurma que vive lá pra cima, no hemisfério Norte.
Com essa não pequena diferença no painel, o saudoso João Saldanha acrescentava: somos (estamos) naturalmente aquecidos. O que talvez explique o jogo de cintura da rapaziada tupiniquim e também os duros quadris europeus, especialmente dos não-latinos.
Chegado a esse ponto, depois de citar o João, não resistirei ao imenso desejo e igualmente ao imenso prazer de divulgar a antológica resposta que deu ao desavisado que perguntou:
João, por que o Garrincha e o Pelé jogam tanta bola?
Os grandes mestres Russo&Tim ensinavam: quem bate bem na bola bate nela como ela vem. O Saldanha era um craque; devolveu de primeira, como ela veio:
Porque os avós desses crioulos tinham de driblar o leão para tomar água. E mais não disse nem lhe foi perguntado. Passemos ao lado "cultura".
Há muito o futebol é paixão popular no Brasil. Atenção. Não confunda popular com povão. O Flamengo é mais popular porque tem torcedores em todas as classes sociais; o Vasco, ai Jesus dos adidos, mal pagos.
Para você ter idéia, os primeiros ídolos populares brasileiros foram Orlando Silva, "cantor das multidões", e Leônidas da Silva, "diamante negro"*. (Antes, o Barão do Rio Branco e Rui Barbosa empolgaram o lado urbano, classe média, do Brasil maciçamente rural.)
Ora, a paixão brasileira não se resume à paixão clubística; a boa, a de lei, a pura, escocesa, é a paixão de jogar futebol! Nós não somos um país de 185 milhões de treinadores; nós somos país de 185 milhões de jogadores de futebol. O que é diferente. E bem melhor, não?
Nota
* A expressão diamante negro é tributo prestado precedentemente ao craque em relação à homenagem da Lacta. Que lançou o chocolate depois.
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