O tempo passa, o tempo voa... Lembra? Na metade da década de 50 (do século passado, cara-pálida), Irati e região pararam para receber o modesto Olaria da então Cidade Maravilhosa, da então capital da República, cheia de encantos mil, o Olaria do Rio de Janeiro, Olaria de Lamparina, Olavo e Ananias; de Cidinho Soca e, acredite, do Maxwel! O combinado Iraty-Olímpico apanhou amistosamente de 2 a 0.
Exatamente meio século depois, na quarta-feira, agora, o glorioso Vasco da Gama, o clube da cruz de malta, passou por Irati para enfrentar o ISC velho de guerra, o Iraty Sport Club, em jogo oficial, à grana, pela Copa do Brasil. E, acredite, minha cidade não parou sequer para o canônico recreio das crianças do venerável Grupo Escolar Duque de Caxias. Eu estava lá, eu vi, ninguém me contou. Mudou o Vasco da Gama ou mudou Irati?
Ah! Com homem a mais desde o início do segundo tempo e com dois a mais a partir do 65.º minuto, ainda assim o Vasco não ganhou! Quem diria, hein? Que o grande Gama quase naufragaria nas rasas, nas doces águas do rio Bonito?
V
Plínio, meu irmão, morreu. Num acidente idiota e gratuito como todos os acidentes. Era terça-feira. Ele voltava de Irati com a mulher, Jasmin, e duas sobrinhas uma ao volante. Quando sob a forte chuva do início da noite uma camioneta desgovernada atravessou a pista para atingi-lo. Ele tinha 75 anos.
Não foi um sábio, nem um gênio, nem um santo longe disso. Mas foi um bom. Bom filho, bom irmão, bom marido, bom pai, bom avô, bom amigo, bom profissional. Engenheiro civil, chegou à direção geral do DER no governo Paulo Pimentel (1965-1969). O destino lhe fez irônica falseta: morreu num trecho da estrada que ajudou a construir.
Minha mãe advertia quando íamos a algum lugar: "Pelo amor de Deus, não me envergonhem. Plínio não a envergonhou. E não só a ela. Que descanse em paz. A nós resta lembrá-lo essa modesta forma de imortalidade.
Eu, por exemplo, gosto de contar uma passagem dele com o saudoso Vercy Caggiano. Que um dia perguntou: "Plínio, por acaso, você tem um cigarro pra me dar?"
E ele, de primeira, de sem pulo, com a esquerda, que era a de fé, rebateu: "Por acaso, não! Trabalhei, ganhei dinheiro, comprei o cigarro."
Ele tinha o humor herdado do lado italiano, do lado materno da família.
P.S.: Canhoto integral bateu sua bolinha na juventude. Chegou ao semi-profissionalismo quando estudava Engenharia: envergou a gloriosa camisa número 11 do Britânia, o "sexticampeão" como diziam os nacionalistas à Policarpo Quaresma, os puristas da língua.
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