O ouvinte de casa&auditório Marcos Rogério de Oliveira batucou muitas mal traçadas* pra defender sua opção preferencial pelo Ceni. Também ecoou: a posição que mais evoluiu nos últimos 30 anos foi a de goleiro. Pra encerrar perguntou: hoje o Félix seria titular de equipe de elite? Como diria o venerável Jack, the ripper, vamos por partes. Com licença.
Pra mim, Ceni é atração de circo: melhor "kicker" que "keeper". É a versão polaca do Chilavert. Que é corruptela do caricato Hiquita. Que descende, bem, cala-te boca. (Notou? Nenhum argentino, nenhum europeu.) Vejamos o tópico "evolução".
Pra variar, discordo. Da Copa de 74 pra cá não pintou sequer um goleiro digno do "hall of the fame". Ou da galeria dos vultos da meta. Concedo: a média, a média nacional, cresceu. Mas os gringos decaíram: sou do tempo que a Argentina tinha 115 soberbos arqueiros. Adelante.
Tudo o que se faz hoje se fazia ontem, antes de ontem, na passagem do século XIX pro XX. Acha os bípedes de hoje superiores ao Marcos Carneiro de Mendonça, fitinha roxa dos anos 10-20s? Sequer sujava o cadarço da chuteira! Não "voava"! Só tomava gol quando erravam o chute! E o Castilho? Apenas 60 defesas num Flu-Vasco em 50!
Perguntaram ao Jackie Stewart se Fangio pilotaria hoje? Respondeu que não sabia. Mas de uma coisa tinha certeza: os pilotos de hoje não pilotariam os carros de ontem.
Curto&grosso: não houve evolução, houve regressão; ontem era muito mais difícil jogar no gol. Hoje não é o tempo das ferozes retrancas? A proteger o keeper com carrinhos, pontapés, cotoveladas? (No xadrez o grande roque defende menos o rei que as retrancas o guarda-redes.)
Sobre se o Félix etc.? SIM! Ele foi excepcional. Corcunda, magrelo, sem massa, pouco mais de 1,75. Mas que coragem! Que elasticidade! Que impulsão! Que reflexos! Que firmeza! Que arranque! Que intuição! Não à toa era chamado "gato Félix"! Não à toa seu apelido era "papel". Pela leveza, pela inumana capacidade de sair do chão, decolar, saltar, voar. Colosso.
Valmor Marcelino e o locutor que vos fala não puderam lançar a 2.ª edição (ampliada) do livrinho "A copa e a crise do futebol brasileiro" (de 1970). Onde registraríamos sublimemente: contra a Inglaterra Félix fez defesa mais difícil que a do Banks na cabeçada do Pelé. Cruzamento do fundo, rasante, colhido de cabeça, de peixinho, na risca da pequena área pelo Lee. Instantaneamente, o Gato saltou pra amortecê-la no chupado peito. Salvou-nos. Ufa.
Nota
* Não é crítica; brinco com o jargão, brinco de intertexto.
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