Que os outros se orgulhem dos livros que escreveram, eu me orgulho dos que li, habló Borges, o grande argentino de sangue português nas abertas veias não latino-americanas. Ôoooolê!

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A macaquear Borges, direi: "Que os outros etc., etc., me orgulho dos leitores que tenho". É tchiurma esperta, atenta, sabida, cheia de idéias e opiniões e observações e críticas. Qualquer vacilo é fatal – bomba! Como: "Notei grotesco erro de concordância" ou "Volte (?) aos bancos escolares" ou "Bárbaro erro factual" ou "Sua asnática opinião".

Claro, nem tudo é soco, sola. A turma do gargarejo, bondosas almas, enchem a murchinha bolinha do locutor que vos fala. Bem aventurados os mansos, porque herdarão a terra.

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Agora, a glória que fica, honra, eleva, consola – como está no frontão* da Academia lá no Rio – é receber bilhete do Groff. Que semanalmente brinda os leitores da Gazeta com brilhante coluna – in vino veritas. Um arraso.

Fui à sede velha (sede central é pleonasmo) dos Correios, ao lado da Universidade, e na minha caixa postal – oh! que surpresa tão rude/não sei como pude chegar ao portão – deparei com bilhete civilizado, de próprio punho, manuscrito**, coisa de coxa para coxa, de tricolor pra tricolor. Lá vai! Se segura, pião!

"Num jogo aí ocorreu lance que os juízes sempre dão pênalti. Acho errado: o atacante avançava com a bola, o goleiro jogou-se no chão, tocou a dita, o atacante continuou correndo, tropeçou no corpo ou braços do goleiro e o árbitro deu pênalti.

‘Ora, quem se deslocou e atingiu o adversário foi o atacante: que mudou de posição após a chegada do goleiro, que está deitado, não pode se deslocar.

‘Vamos complicar? O goleiro se joga à frente do atacante, este toca a bola por cima ou pelo lado e tropeça no goleiro. Que não tem obrigação de sair da frente! E como não se moveu impedindo o atacante de continuar a jogada, não é nem obstrução.

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‘Claro: se o goleiro usar as mãos pra segurar a perna do avante é falta."

Groff

De novo, voto com o relator.

Notas

* Ao contrário dos panacas afrancesados e não afrancesados que temem os ãos, os nossos ãos, tão lusos, tão fortes, tão típicos, engrosso a minoritária ala que não só não os teme como os ama. Frontão, por exemplo, é maravilha pura. E alvaralhão, cara-pálida? Essa gigantesca palavra não mexe com os vossos untos? Não foi à toa que o grande Gama, o imenso Gama, o Vasco, abriu o caminho lá pras Índias. Com um par de Alvaralhãos no convés iria ao inferno.

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** O cúmulo da cafajestada é datilografar/ digitar/ batucar bilhetes de amor.