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O mundo era meio esquisito: não se podia chupar manga após ter bebido leite. Tomar chocolate quente era um ritual. Menino não devia fazer xixi em fogueira. Quando a tarde morria e começava-se a ouvir os sons da noite, as luzes se acendiam, as pessoas iam para as janelas até o cumprimento de boa-noite seguido da bênção dos pais aos filhos.

O vento encanado era o hálito do diabo. Dizia-se que Napoleão nunca temera inimigo algum, mas ficava com medo quando recebia um vento encanado pelas costas.

No fundo, tudo isso era um pouco mágico. Todo dia passava em frente da casa o afiador de facas, o vendedor de coelhos, a pedinte leprosa ou o maluco que batia bumbo anunciando o fim do mundo. E o alto-falante do cinema anunciava o filme do dia.

Eram tempos de muitas histórias, muitos mistérios, muitos medos e, sobretudo, muitas superstições.

Gato preto era sinal de perigo, sapo seco dava azar e passarinho morto mau agouro. Passar embaixo de escada, nem pensar.

Mas quem sempre teve fé e religiosidade passou por cima de tudo isso com relativa tranqüilidade.

Esses presságios ou manias resistiram ao tempo no futebol. Hoje em dia o pai-de-santo foi trocado pelo psicólogo motivador de grupo, mas entrar no campo pisando com o pé direito persiste como costume de nove entre dez jogadores.

Na reta de chegada dos campeonatos os times recorrem a tudo, tanto para ganhar o título quanto para evitar o rebaixamento. É a chamada hora do espanto.

Rodada

Sensacional é o que se pode dizer desta rodada: todos os clubes estarão envolvidos em partidas com caráter decisivo, dependendo da posição ou do projeto de cada competidor.

O jogo mais aguardado será no Mineirão, entre Cruzeiro e Grêmio, pois o time gaúcho cumprirá a primeira tarefa digna de Hércules na corrida pelo título de campeão. Se passar pelo Cruzeiro, dificilmente será alcançado, mas, se enroscar, abrirá novas perspectivas à disputa.

Só que os seus concorrentes diretos também terão desafios nada desprezíveis.

O Palmeiras, que se beneficiou da fortuna investida pela Traffic e pode se constituir na grande decepção da temporada, recebe o perigoso Goiás, enquanto São Paulo e Flamengo jogarão fora de casa: o Botafogo é o obstáculo do time de Muricy e, o Vitória, do time de Caio Júnior. Qualquer descuido poderá ser fatal, pois está diminuindo a margem de recuperação.

Aqui, teremos Coritiba e Atlético-MG, um dos jogos com menor apelo emocional a esta altura do campeonato. Se bem que o Galo precisa vencer para respirar mais aliviado e o Coxa para alcançar a reabilitação, depois da surra que levou do Flamengo, no Maracanã.

Curioso é que nem bem perdeu a vaga na Libertadores e o Coxa começou a viver clima turbulento, com comentários sobre finanças, política, mudanças no elenco e outros babados.

carneironeto@gazetadopovo.com.br

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