A euforia da torcida com a seleção brasileira é proporcional ao que acontece dentro de campo.
As conquistas dos primeiros títulos mundiais enlouqueceram o torcedor e levaram o cronista Nelson Rodrigues a timbrar mais uma de suas frases imortais: "A seleção é a pátria de chuteiras".
A maior festa popular registrada no país em todos os tempos ocorreu naquele longínquo domingo de junho de 1970 quando o Brasil goleou a Itália por 4 a 1, conquistou o tricampeonato e ficou definitivamente com a Taça Jules Rimet.
Diversos fatores contribuíram para a impressionante explosão da população nas ruas de todas as cidades, prolongando-se até o amanhecer do dia seguinte. Passou pela política, pois vivíamos o auge da repressão no período militar, pelo fato de ter sido o primeiro Mundial com transmissão direta, ao vivo e em cores pela televisão, mas, sobretudo, pela constelação de craques que realizaram apresentações primorosas chegando ao ápice na final do Estádio Azteca.
A Copa do Mundo mexe com o povo e os mais apaixonados enfeitam as casas, as ruas e usam objetos que destacam as cores da bandeira. O verde-amarelo toma conta do panorama, mas a graduação está vinculada ao favoritismo oferecido à seleção.
Na Copa passada, por exemplo, com todos apontando o Brasil como favorito na Alemanha, foram grandes os preparativos, apenas superados pela decepção. Desta feita, a torcida aguarda o apito inicial sem euforia.
O técnico Dunga fez questão de chamar a atenção para o patriotismo. O amor ao país é o primeiro senso comum de todos os povos, tanto para a guerra quanto para as comemorações.
A história esta repleta de episódios sangrentos que se iniciam com o gatilho do nacionalismo exacerbado.
Mas o Brasil é o país do futebol e isso é motivo de orgulho, desde que não seja coisa ufanista, como encara Dunga.
A Copa mexe com o orgulho nacional e o patriotismo fica à flor da pele, numa catarse coletiva sem precedentes. Não necessita, portanto, de aditivos ou de incentivos.
O futebol veio da Inglaterra e por volta de 1894 começou a ser praticado por aqui, mas, ao contrário de hoje, foi satanizado pelos nacionalistas.
Graciliano Ramos, gênio das letras e militante comunista, escreveu em 1921 que o futebol não ia vingar por estas "paragens do cangaço" por ter vindo do estrangeiro. "É roupa de empréstimo que não nos serve", disse o imortal Graciliano.
Ele, como muitos outros, reagia ao fato de a terminologia futebolística ser inglesa. Com o tempo, até foot-ball virou futebol.
Nascia ali outro senso comum brasileiro que é o complexo de vira-lata, também criação do notável Nelson Rodrigues: o estrangeiro é sempre melhor.
Neste particular, com a não convocação de Ganso a maior revelação da temporada Dunga nos mostrou que ainda não estamos curados: o jogador que atua na Europa tem preferência.