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Do mesmo jeito que o caráter nacional foi forjado no colonialismo português, na ditadura Vargas e no regime militar, o Brasil sofre a nostalgia do feitor.

Aqui onde a escravidão bateu o recorde de longevidade, não admira que a sociedade se movimente ao compasso do estalido da chibata. Ora por atitudes, ora por leis.

Durante o século passado, a maioria dos primeiros presidentes da República governou sob leis de exceção e as ditaduras de Vargas e dos militares duraram quarenta anos. Foi dose muito forte para a jovem democracia.

Mas o assustador é que, volta e meia, ouve-se alguma voz clamando por autoridade. É dessa fábrica das tentações despóticas que sai o espírito da pátria de chuteiras. Daí a existência dos conhecidos feitores que atazanam a vida dos clubes de futebol com o seu autoritarismo, transformando-os em times de donos. O pior é que os ditadores da bola demoram para apodrecer nos cargos.

Com o exercício democrático, que dura mais de vinte anos sem interrupção – desde a Nova República, inaugurada por Tancredo Neves – os brasileiros foram se acostumando a escolher os governantes. Não é tarefa fácil, sabemos, pois a oferta é de baixo extrato intelectual e moral e os partidos políticos não primam exatamente pela seleção das espécies.

Nem sempre os candidatos que se apresentam são aqueles que o eleitor gostaria de escolher.

É coisa rara observar um homem de bem ou um grande empresário envolvido com partidos políticos. A maioria é carreirista ou franco-atiradores em busca de um lugar ao sol.

Mas é com a prática democrática que se processa a evolução natural. Lamentavelmente de forma lenta e gradual, como sempre acontece em nosso país.

No futebol não é diferente, pois a sua atividade reflete como um espelho a realidade nacional. Diversos cartolas mantêm-se há tempos nos cargos, apegados ao poder e aos seus benefícios indiferentes as críticas e aos protestos daqueles que defendem a rotatividade na gestão dos clubes.

O anuncio da realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil aumentou o grau de interesse dos cartolas. É muito dinheiro envolvido em um projeto dessa magnitude. Para se ter uma idéia da grandiosidade do evento, na última Copa do Mundo, sete milhões de turistas, jornalistas e esportistas visitaram a Alemanha durante um mês, gerando o aumento de um e meio por cento do PIB – Produto Interno Bruto – do país. É muita grana em jogo. E o jogo político é bruto.

Além de fonte de divisas, o Mundial de futebol promove o país e as cidades sedes deixando muito mais benefícios do que despesas.

Mas para desenvolver toda a infra-estrutura exigida para o megaprojeto é importante o investimento em moralidade publica e credibilidade.

A realização de uma Copa do Mundo será bastante educativa, podendo significar o divisor de águas entre o passado e o futuro do Brasil.

carneironeto@gazetadopovo.com.br

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