A tramitação de processos judiciais pode durar anos. Tudo depende da matéria, das alegações dos advogados, da interpretação do juiz, dos recursos impetrados no curso da ação até chegar ao último grau de apelação.
Mas todos que se sentem prejudicados têm o direito de recorrer no vasto campo do direito. No esporte não. Em todas as modalidades a decisão do árbitro é soberana e não cabe nenhum tipo de recurso.
É imenso o folclore entre magistrados, promotores, serventuários e advogados sobre os caminhos dos processos na Justiça.
No animado universo do show business são famosas as brigas jurídicas entre produtores, diretores, agentes, roteiristas, atores e outros personagens. Uma das mais deliciosas histórias contadas trata do magnata do cinema Carl Laemmle, fundador da Universal Pictures, que infringiu vários direitos de patentes, um mal endêmico nos primeiros anos dos grandes estúdios de Hollywood.
O produtor enfrentou numerosos processos através dos anos. Quando seu advogado por fim conseguiu livrar-lhe de todos os litígios, enviou um telegrama: “A Justiça triunfou”. Mas Laemmle, sabendo-se culpado na maioria dos casos, não entendeu a mensagem e respondeu: “Apele de imediato”.
No futebol não tem apelação e não se discute os erros de fato.
As interpretações equivocadas se sucedem e algumas até mesmo se tornaram célebres como o famoso gol de Maradona nas quartas de final da Copa do Mundo de 1986. A mão de Maradona – “la mano de Dios” segundo ele – tocando a bola a caminho das redes do goleiro inglês Peter Shilton no triunfo da seleção argentina sobre a Inglaterra.
E só a mão, e não a genialidade do craque argentino, é que permitiu a um atleta de 1,66 metros antecipar-se ao adversário de 1,83 metro.
Na semana que se encerra foi o Real Madrid que se beneficiou das verdadeiras barbaridades cometidas pela arbitragem na vitória sobre o Bayern de Munique, pela Liga dos Campeões.
Até quando, pergunto, o futebol vai insistir em confiar a sorte de uma partida a um solitário árbitro ?
Portador de decisões sem recurso correndo na diagonal da sorte. Os bandeirinhas que estão ali, na lateral do campo, apenas para marcar impedimento e bola fora conseguem errar a farta. O quarto árbitro, ao lado da trave, parece ajudar muito pouco, pois os erros persistem jogo a jogo.
As 17 regras são interpretadas e decididas, no calor do jogo, pelo árbitro, investindo o dom divino da onipresença e da onisciência além da onipotência que lhe confere a FIFA.
O uso do vídeo para auxiliar a arbitragem foi autorizado pela International Football Association Board, mas até agora nada de novo na prática.
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