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Um circo é um circo, tanto quanto uma rosa é uma rosa. Ou melhor: o circo é um círculo, uma roda, cerrado circuito, feito – e perfeito.

As arquibancadas de madeira, o ancho lençol de lona, armado e esticado segundo topologias sábias, tudo no circo é ritual de liberdade. O circo é a casa da infância. E, por isto mesmo, a casa da poesia.

Ao circo é inerente a sua pobreza, com a honrosa exceção do Ringling Brothers Barnum Bailey norte-americano, o maior circo do mundo celebrizado pelo filme O Maior Espetáculo da Terra.

No geral, entretanto, não existem circos ricos, do ponto de vista da metafísica do circo. O circo rico é uma contrafação sinistra, como o seria um frade franciscano com depósito de dólares na Suíça. O bom frade franciscano, legítimo e legitimado, faz voto de pobreza. O bom circo também o faz.

O circo, sendo pobre, é um espaço cristão. Aliás, os mártires cristãos iniciaram sua marcha subversiva dando-se em espetáculos nos coloridos e perversos circos romanos. Os mártires, abrasados de fé, eram comidos pelos leões. O império romano, com o tempo, acabou engolido pelo apetite desses sublimes devotos que, em nome do amor a um deus crucificado e plebeu, davam suas vidas para ganhar a graça depois da morte.

O circo, porém, é das bem-aventuranças deste mundo. Ele é concreto e cheira a serragem, a pipoca, a algodão-doce e tem como principal objetivo dar alegria a todos que se sentam em torno do picadeiro. É um pátio de recreio e de milagres. Pois o circo – com seus palhaços, seus mágicos, suas gambiarras multicores, seus trapézios, suas bailarinas e bichos amestrados – é capaz de desatar o sonho, a infância, a poesia.

O circo dispara o voo da mente, como um bater de palmas de pequeninas mãos por onde passa, depois é desarmado deixando saudades no coração e imagens inesquecíveis gravadas nas retinas de cada um.

O futebol também era assim, mas infelizmente não é mais. Pela banalização do espetáculo, com excesso de times, jogos e campeonatos somados a desorganização, desconforto e insegurança ele perdeu o poder mítico de movimentar as massas. As exceções apenas confirmam a regra, já que o torcedor fareja o grande jogo e, daí sim, comparece em grande número porque sabe que vale a pena ir ao estádio com a alegria de quem vai ao circo.

Não é o caso do Atletiba esquisito de logo mais. Esquisito porque o Atlético abandonou a ilusão e a alegria de conquistar o título antes mesmo de a bola começar a rolar. Só que, pela fragilidade técnica da maioria dos participantes, o seu time sub-23 chegou à liderança e praticamente decidirá o returno na tarde de hoje. O Coritiba, ao contrário, está levando o campeonato a sério, colocará em campo a sua formação principal e, pelas circunstâncias, tem a obrigação de vencer.

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