Em vez da centenária camisa alvirrubra o Rio Branco, de Paranaguá, entrou em campo para enfrentar o Paraná vestido de amarelo e azul. São as cores do patrocinador. Quarta-feira, o Flamengo perdia para o Volta Redonda jogando com uma camisa horrorosa que em nada lembrava o tradicional manto sagrado rubro-negro. A torcida protestou, os jogadores disseram que não gostavam daquela camisa quadriculada e, no intervalo, o uniforme foi trocado. Coincidência ou não, o time correu mais, lutou mais e virou o placar no Maracanã. Será que camisa ganha jogo? Antigamente achava-se que sim, tanto que muitos acreditam que os títulos brasileiros do Coritiba e do Atlético só aconteceram por causa do peso da camisa nos confrontos com Bangu e São Caetano. Os mesmos afirmam que nas finais da Copa do Brasil, do Coritiba com Vasco e Palmeiras; e do Atlético com o Flamengo, a maior tradição dos adversários foi decisiva para a derrota dos paranaenses.
Mas de qual camisa estamos falando? As malhas dos clubes grandes têm sido vilipendiadas e desfiguradas impiedosamente. Por décadas foram as mesmas. Qualquer pessoa podia identificá-las, mesmo as não ligadas ao futebol. Milhares escolheram na infância o time de coração pela camisa, pois não podiam ver os jogos e não existia televisão. Também temia-se a jaqueta do inimigo – e só de vê-la já dava um frio na barriga. O uniforme inteiro então é bom nem falar. Há quem acredite que pior do que acabar o Ferroviário, foi ter dado fim à camisa vermelha com os punhos, a gola, o calção e as meias pretas. O Boca-Negra se impunha em campo, ao passo que o Colorado não passava de uma cópia do Inter. Os coxas nunca abriram mão dos calções negros, providencia tomada pelos atleticanos que, depois de muito tempo usando calções brancos, voltaram a vestir os negros que compõem o seu fardamento original.
Com a comercialização selvagem do futebol, entrou em ação um exército de publicitários, estilistas, designers, artistas gráficos e outros. Todos com alguma ideia de como atualizar, modernizar, repaginar e outros termos que ajudaram a avacalhar o visual dos times. Hoje é praticamente impossível, num primeiro relance, saber quem esta jogando contra quem. Essa gente esqueceu que o amor do torcedor pelo futebol está intimamente ligada a coreografia histórica dos uniformes que o transportam no tempo para reverenciar os craques do passado que construíram a glória dos clubes. Agora, os torcedores são forçados a contemplar camisas inglórias.
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