Em um país com péssimo sistema público de saúde; rede escolar deficiente; aparato de segurança pública ineficiente; infraestrutura deteriorada com a mobilidade urbana comprometida, estradas saturadas, ferrovias abandonadas e aeroportos caóticos, além da má gestão da maioria dos prefeitos, governadores e administração federal, soa meio estranho discutir com tanta ênfase a baderna instalada no estádio de Joinville, enquanto o Ministério Público catarinense e a Polícia Militar trocam acusações.
Tão ou mais grave do que as torcidas organizadas violentas, que já deveriam ter sido extintas há muito tempo se houvesse, efetivamente, vontade política das autoridades e dos dirigentes do futebol, são os baderneiros que desmoralizaram a polícia a céu aberto nas tumultuadas passeatas de protesto, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Prendem, identificam o delinquente e soltam, como acontece na maioria dos crimes praticados no país, por falta de estrutura policial no combate à criminalidade e no monitoramento dos presos em regime semiaberto. E a superlotação de nossos presídios, além de propiciar condições desumanas aos condenados, também torna impraticável o cumprimento das penas.
Voltando ao fatídico jogo de domingo, todos falharam na segurança ao público: a diretoria do Atlético por não ter tomado as medidas recomendáveis; a torcida organizada do Vasco, por ter iniciado a provocação e invadido o setor neutro da arquibancada; a do Atlético, por ter revidado com a mesma intensidade; e o árbitro por não ter observado a ausência de policiais militares no interior do estádio.
Os dirigentes do Vasco claramente tentaram impedir o reinício da partida por temerem a goleada que se materializou, com o presidente Roberto Dinamite avocando a segurança dos torcedores como se o estádio de São Januário fosse um primor de respeito à integridade física e moral dos visitantes. Como se nunca houvesse se registrado constrangimentos e agressões aos visitantes e representantes da imprensa pela truculência dos seguranças do clube e do próprio ambiente sombrio que cerca aquela antiga praça esportiva. Sem a intervenção do supervisor atleticano Antônio Lopes, a partida não seria concluída.
Agora o advogado do Vasco tenta anular a partida ou mesmo reverter no tapetão o resultado do campo, apostando na força política e na performance do STJD, que através dos tempos lembrou um tribunal de opereta.
Assistimos a um cenário deprimente neste país, com a incorrigível classe política desmoralizada e os governantes fugindo da responsabilidade de encarar os verdadeiros problemas que afligem a população.
Há leis suficientes e capazes para acabar com a violência nas ruas e nos estádios, desde que os mandatários do Poder Executivo imponham o império da lei sem medo de perder votos nas eleições.