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"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus – o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".

Quando Ruy Barbosa proferiu seu famoso discurso no Senado – este mesmo que está aí, com o senador Renan Calheiros na presidência – em 17 de dezembro de 1914, de onde extraí o trecho em epígrafe, ele certamente estaria imaginando que havíamos chegado ao "fundo do poço".

Seu discurso é corajoso, duro, brilhante e mostra claramente sua revolta pelo que via a seu redor.

Pois bem, decorridos quase cem anos, o que vemos de diferente em nosso país?

Passamos por duas ditaduras – a de Getúlio Vargas e a dos militares –, recuperamos a democracia, o povo ganhou o direito de escolher seus governantes, um presidente sofreu processo de impeachment e um metalúrgico foi eleito para nos comandar. O Brasil cresceu, chegou a ser a oitava potência do mundo, mas a desonestidade, a podridão e a miséria moral cresceram muito mais. Se vivo fosse, hoje Ruy Barbosa estaria muito mais perplexo, envergonhadíssimo de ser honesto.

A situação moral do país hoje – especialmente na esfera política – é tão caótica que a falta de segurança deixou de ser a preocupação maior do povo brasileiro, dando lugar à corrupção.

Continuamos aguardando o "choque ético" anunciado pelo presidente Lula que tem realizado muitas coisas positivas, mas ainda não deixou "pedra sobre pedra" como prometeu.

Ética, caráter, honestidade, vergonha, respeito são palavras que se tornaram vazias, quase em desuso na política e, por extensão, em diversas outras atividades da sociedade. No futebol, então, tudo isso foi atirado na lata de lixo há muito tempo.

Basta correr os olhos pelo noticiário desta semana, através do qual tomamos conhecimento da nova prisão do ex-presidente da Federação Paranaense de Futebol, Onaireves Moura, e mais oito asseclas de sua quadrilha; da não instalação da CPI do escandaloso caso MSI/Corinthians, por intervenção da CBF junto ao Parlamento e a briguinha ridícula entre Flamengo e São Paulo para saber quem é que foi pentacampeão primeiro.

O caso de Onaireves é antigo, abrangente e cada vez mais robusto, por ele ter revelado impressionante capacidade para delinqüir. Essa de criar uma igreja para arrecadar o dízimo pela internet é "de cabo de esquadra", como se dizia no português antigo. Melhor que essa, só mesmo "não venhas de borzeguim ao leito". Ou seja, tire as botas para deitar.

A pressão da CBF sobre os deputados e senadores dá bem a dimensão de como será o ritmo daqui até a Copa de 2014. Sai de baixo.

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