Vagner Mancini declarou que o Atlético não jogou. Ou, por outra, jogou muito mal e, no desespero de marcar o gol nos últimos minutos, desmantelou-se na retaguarda e acabou derrotado por um adversário que também mostrou pouco, mas soube decidir. Enquanto Mancini explicava o fracasso do seu time em meio às imagens da ruidosa festa do Flamengo no Rio de Janeiro, lembrei-me de um personagem criado pelo genial Nelson Rodrigues que, chegando de Londres, desembarcou do navio no píer da Praça Mauá e foi registrando num caderninho tudo o que via de curioso nesse desconhecido paraíso tropical.
O inglês termina o passeio no Maracanã, no meio da torcida do Flamengo em dia de Fla-Flu. O resto da crônica é uma delícia.
Pois bem. Se aquele inglês tivesse saído do mundo rodriguiano e ido ao Maracanã assistir à final da Copa do Brasil, teria anotado no seu infalível caderninho: o Atlético não jogou porque não pode. E não pode porque chegou ao limite dos seus recursos técnicos sem reservas à altura, sentindo muito as ausências do ala Léo e do armador Everton, além de apresentar o esforçado Pedro Botelho fisicamente desfigurado. O jovem Léo nem bem iniciou promissora carreira e logo se transformou em um atleta problemático, com duas expulsões infantis que revelam um temperamento difícil para jogador profissional. Em nenhum momento Felipe conseguiu reprisar a boa atuação frente ao Náutico também pudera, pegou logo o ponto alto do Flamengo, que é o meio de campo muito bem composto por Amaral, Luiz Antônio, Elias e Carlos Eduardo , e Paulo Baier mostrou grande dificuldade para acertar o passe e, enfim, organizar o sistema de armação do time.
Para ilustrar, uma sentença do grande Nelson: "Só o jogador medíocre solta a bola de primeira. O craque, o virtuose, o estilista, prende a bola, levanta a cabeça e decide o que fazer com ela. Sim, ele cultiva a bola como uma orquídea de luxo".
Na base do chutão e tentando jogar de primeira por pura insegurança, o Furacão jamais ameaçou a meta carioca, tanto que nem conseguiu explorar a velocidade de Marcelo e muito menos tirar proveito do faro de gol do artilheiro Éderson, que não conseguiu finalizar uma única e escassa vez contra o goleiro Felipe. Por falar em goleiro, outra extraordinária atuação de Weverton evitou a goleada desenhada pelo Flamengo.
Pelo caráter decisivo da partida e talvez pelo lindo décor do estádio, os jogadores não conseguiram jogar com a inteligência, leveza e rapidez que se tornaram a principal característica de um grupo aguerrido, que vem se superando nesta temporada.
O time entrou no templo do futebol com medo de errar e acabou ficando com medo de jogar, coisa que não pode se repetir nos dois jogos finais que decidirão a sua vaga na Libertadores, sob pena de aumentar a desilusão da torcida atleticana.
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