Antes de tomar o táxi para ir ao Maracanã transmitir a final do Brasileiro de 1985, entre Bangu e Coritiba, fui ao hotel na praia do Leme avisar o comentarista Munir Calluf que estava na hora do trabalho.
Munir, ex-diretor de futebol vitorioso e ídolo da torcida – naquele tempo os dirigentes conseguiam ser idolatrados, como Evangelino Neves ou Luis Afonso Camargo – arregalou os olhos, também verdes, e exclamou: “O vendedor de sorvetes passou a tarde inteira oferecendo o picolé Dragão Chinês. O Coritiba será campeão!”. Chinês era o carinhoso apelido que os amigos deram ao presidente Evangelino Neves.
O título confirmou-se na cobrança de pênaltis com o goleiro Rafael brilhando em um time que não possuía medalhões, mas jogadores altamente qualificados como Gomes, Heraldo, Dida, Toby, Lela, Edson, o artilheiro Índio, entre outros. Um homem de poucas letras, até fechado demais, Ênio Andrade possuía extraordinário senso prático e soube montar aquele elenco vibrante, unido e muito competitivo.
Mesmo enfrentando adversários economicamente mais fortes, o Coxa foi vencendo um a um nas diversas etapas do longo campeonato, comprovando que o futebol é o único esporte em que uma desigualdade flagrante entre dois clubes não determina antecipadamente o resultado do confronto.
Vale o trabalho, o empenho e a capacidade dos jogadores de resolver os problemas em campo. Isso o Coritiba conseguiu naquela gloriosa campanha de modo espantosamente desafiador, formas ou alternativas de encarar os obstáculos a cada rodada. As atuações que mesclavam garra com técnica não deixaram nenhuma plateia insensível.
Eram outros tempos, com muitas dificuldades para a transmissão de jogos com cerca de oitenta emissoras de rádio sem cabines no então maior estádio do mundo. Alugávamos caixas vazias de cerveja para ficar em cima e superar a barreira da mureta em frente a tribuna de honra para enxergar o campo.
Em tempos sem internet e celular, tive de correr até a sala de imprensa e ditar a coluna por telefone ao companheiro Aloar Ribeiro, editor de esportes da Gazeta do Povo. Valeu todo o esforço pela satisfação de ver um time paranaense pela primeira vez no topo do pódio.
O Coritiba chegou ao Paraíso há exatos 30 anos e, no dia seguinte, coincidiu que estivéssemos no mesmo voo dos campeões. O desembarque no aeroporto Afonso Penna foi apoteótico e a carreata até o Alto da Glória marcou uma das maiores festas populares da cidade.
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