Se nos considerávamos uma nação pródiga em exuberantes paisagens tropicais e em não menos exuberantes frases de efeito, devemos acrescentar ao nosso acervo o deprimente espetáculo proporcionado pelos parlamentares.

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Depois da burlesca sessão de votação na Câmara dos Deputados, na abertura do processo contra a presidente da República, o país assistiu, atônito e perplexo, os embates no Senado Federal.

Como monocórdico relógio de repetição Sua Excelência e seus exaltados bolivarianos só falaram em “golpe”. É a primeira vez na história de qualquer país civilizado que os tidos “golpeados” têm o direito de recorrer ao “golpe fatiado” no Supremo Tribunal Federal.

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Isto, sim, é uma democracia exuberante; ou uma gigantesca jabuticaba.

O pontapé inicial da verborragia nacional foi dado pelo escrivão português Pero Vaz de Caminha no Em se plantando tudo dá”. A frase de efeito na carta ao rei de Portugal inaugurou uma vasta linhagem de conceitos igualmente otimistas que se seguiram como, por exemplo, “Brasileiro, profissão esperança”.

O genial escritor judeu austríaco Stefan Zweig nos brindou com o “Brasil, país do futuro”. Uma sentença de raro confeite. Afinal, quando chegaremos ao futuro?

Continuamos grandes consumidores de frases-slogans altissonantes. E o curioso é que muitos acreditam no poder cabalístico delas, como se, quando pronunciadas muitas vezes, produzissem luzes sobre a realidade.

Desde a “Ordem e Progresso” dos positivistas, passando pelo “O Petróleo é nosso” de Getúlio Vargas; “Passar a vassoura na corrupção”, de Jânio Quadros; “O Brasil está à beira do abismo”, da Primeira República; o binômio “Energia e Transporte”, de JK; a “Aliança para o Progresso”, nos governos Jango-Kennedy; o “Ouro para o Brasil”, logo após a revolução militar que impediu o país de virar Cuba; o “Ame-o ou Deixe-o” até a abertura “Ampla, geral e irrestrita” dos últimos anos dos militares no poder.

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“Rouba, mas faz”, “Aqui se trabalha”, “Diretas já”, “O caçador de marajás”, “Um salto no escuro” e por aí seguiram as campanhas políticas a embalar sonhos no coração, esse consumidor insaciável de ilusões.

As palavras gastam-se e a frustração é enorme.

O futebol também teve os seus bordões de efeito tais como “Escrete de ouro”, “As Feras do Saldanha”, “90 milhões em ação”, “Voa canarinho”, mas que deram alegria aos torcedores com as conquistas dos clubes e das seleções através dos tempos.

O ranço da ideologia política criou o “Não vai ter Copa”. Teve e correu tudo bem, dentro e fora das arenas, até os humilhantes 7 a 1 da Alemanha. “Não vai ter Olimpíada”. Teve e foi emocionante.

Afinal, “Deus é brasileiro”.

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