"O futebol brasileiro está atrasado taticamente em relação ao europeu e, infelizmente, isso tem muito a ver com a minha classe. Nossos preparadores físicos, fisioterapeutas e treinadores de goleiros são top, estão entre os melhores do mundo. Já nossos treinadores ficaram para trás. Muito por arrogância. Acham que sabem tudo, que são donos da verdade. Trabalhar no Brasil não é fácil, mas dizer que um técnico estrangeiro não teria sucesso aqui é um pouco demais. Será que Guardiola não faria um bom trabalho se viesse trabalhar na seleção? Me parece mais insegurança do que qualquer outra coisa".
Declaração de Paulo Autuori ao assumir o comando técnico do Vasco. Só não me perguntem como é que um clube falido como o Vasco conseguirá pagar o altíssimo salário do novo treinador. Ou não paga, como tem acontecido ultimamente. Pelo que foi dito por Paulo Autuori e pela constatação do que ocorre na administração de muitos clubes é que o futebol brasileiro há muito tempo deixou de ser o melhor e está cada vez pior com péssimo calendário, estádios vazios, gramados ruins, arbitragens medíocres, jogadores supervalorizados em relação ao baixo nível técnico e violência das torcidas organizadas.
Outra questão importante abordada pelo experiente profissional foi em relação a vulgarização do futebol como espetáculo pelo excesso de oferta na tevê e a falta de espontaneidade no ambiente carregado desse futebol mercantilista e antiético. Ele também destacou o patrulhamento da mídia, do politicamente correto e a desconfiança na engrenagem que engloba jogadores, comissões técnicas, dirigentes, torcedores e imprensa.
Observa-se atualmente um sentimento de pouca harmonia entre as partes que integram o grande e popular esporte, com destaque a mídia que superdimensionou o papel dos treinadores ao ponto de fiscalizá-los em cada detalhe durante os jogos com uma câmera exclusiva em cima do estrategista do time, tanto aqui quanto na Europa.
Outro dia, Joachim Löw, técnico da seleção alemã, foi flagrado durante um jogo tirando meleca do nariz e botando na boca. Isso com a bola rolando e a tevê preferiu mostrar a porcalhonagem em vez do jogo que estava acontecendo.
Os técnicos brasileiros, por sua vez, se unem contra a avalanche de demissões tendo em vista que cerca de 130 profissionais foram dispensados apenas nos três primeiros meses do ano entre os clubes das quatro principais divisões do país.
Pode ser técnico famoso, experiente, novato, caro, barato, retranqueiro, ofensivo, ultrapassado, inovador, burro com sorte, ninguém escapou da guilhotina neste início de temporada.
Procurando recuperar o prestígio da classe os treinadores começaram a se articular para criar uma associação para diminuir a instabilidade da profissão melhor remunerada entre os executivos de futebol.
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