O antológico filme Amarcord – Io mi recordo, no dialeto da região em que se passa a história – mais não é do que a recordação dos tempos da juventude do cineasta Federico Fellini em Rimini.
Todos lembramos do passado. Eu me recordo dos costumes, dos cheiros, dos sabores, das dificuldades, das notícias, dos termos, das pessoas e do dia a dia de 60 anos atrás.
Tudo era novidade para mim. Começava a conviver com vizinhos, colegas de escola, times de futebol ao vivo ou pelo rádio, a professora peituda, a gostosa da farmácia, a primeira geladeira, o primeiro telefone.
Tudo um pouco distorcido, provocando a reinvenção da memória.
Toda vez que visito o Estádio Durival Britto e Silva sou tomado por angustiante melancolia. Mas não é uma sensação de tristeza. É um processo melancólico de tudo o que já passou pela vida. Vila Capanema é uma espécie de estação saudade. Saudade dos bons tempos do futebol ainda com resquícios de amadorismo, com pessoas mais educadas nas arquibancadas e, é óbvio, de todos aqueles que passaram e deixaram boas lembranças.
Como palco dos principais jogos nas décadas de 1950-60, o antigo estádio pegou em cheio a nossa infância e juventude. Pensei que era só comigo, mas muita gente tem nostalgia daqueles velhos e bons tempos.
Outro dia encontrei o ex-presidente do Colorado, o advogado Pedro Álvares dos Santos, e no meio da conversa surgiu o nome de Hipólito Arzua. Certamente um dos dirigentes mais sérios e corretos que passaram pelo futebol paranaense. Raros são os homens públicos e gestores do esporte com a eficiência, a força de trabalho e a ética do presidente bicampeão pelo Ferroviário.
Viajamos no tempo e voltamos ao presente. Lembramos que neste domingo (28) será realizado o primeiro clássico do campeonato no vetusto estádio tricolor.
Falamos pouco da parte técnica do jogo até porque as duas equipes ainda estão em fase de arrumação. Se bem que Claudinei Oliveira saiu na frente, tirando água da pedra para formar um time competitivo com escassos recursos humanos. Cristóvão Borges trabalha com elenco mais qualificado, mas ainda não conseguiu dar ao time a imprescindível personalidade tática e técnica para deslanchar nas competições do ano.
Preferimos esperar pelo clássico e falamos mais da grande festa que foi a inauguração do gramado sintético da Arena da Baixada. Do aspecto de Champions League do estádio que os atleticanos curtem extasiados.
E, inevitavelmente, fomos mergulhando nas reminiscências do que ficou gravado em nossas retinas pelas emoções vividas na Vila Capanema.
Nossas memórias. Afinal, é tudo o que temos até o último dia de vida.
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