Fantasma centenário

Na Inglaterra, onde os fantasmas são curtidos, reverenciados e merecem circuitos turísticos por casas velhas e castelos assombrados, quanto mais antigo foi o primeiro susto, mais valorizado fica o fantasma do local. Coisas de inglês, dirão. Mas o nosso fantasma de estimação estaria em alta no mercado da Pérfida Albion: O Fantasma dos Campos esta festejando o seu centenário.

Vila Oficinas é o nome do bairro onde foram instalados pela Rede Viação Paraná-Santa Catarina os equipamentos apropriados para o reparo e consertos de máquinas – as velhas e boas Maria Fumaça – e vagões dos trens que transportavam o progresso. E também onde ficava o terreno doado pela Rede para Ferroviário construir seu estádio.

Quando menino, participei de uma peneirada organizada pelo seu João Carneiro em Vila Oficinas.

Como não passei, segui jogando futebol de salão pelo Guarani e futebol de campo pelo River Plate, time de estudantes que disputava o campeonato juvenil da cidade.

Vi muitos clássicos no Germano Krüger, especialmente os célebres Ope-Gua – Operário x Guarani – e partidas decisivas, com destaque às finais com o Coritiba, em 1961.

Houve um jogo entre o Fantasma e o Coxa, pela Taça da Legalidade – alô, Brizola! –, disputada entre paranaenses, catarinenses e gaúchos, em 1962, que, pelas provocações de Miltinho, irreverente craque do Coritiba, terminou em pancadaria com todos os jogadores envolvidos. Foi preciso chamar soldados do Exército para conter os torcedores que haviam dominado os policiais no confronto entre as facções exaltadas.

O apelido de Fantasma foi dado pelos principais adversários da capital nas primeiras décadas do quase centenário Campeonato Paranaense: Britânia e Palestra, que se revezaram durante anos na conquista dos títulos estaduais, muitas vezes decidido com o Operário, de Ponta Grossa. Jamais os árbitros deixaram um time da capital perder o título em decisão extra com o tradicional rival do interior. Em 1926 o Palestra empatou o primeiro jogo com o Operário e negou-se a disputar a partida decisiva em Ponta Grossa. Basta observar a relação oficial dos campeões estaduais para verificar a injustiça: o título ficou com o Palestra.

Mas o que tornou o Operário uma lenda no futebol e um adversário temível foi a sua coleção de craques e revelações através de um século de existência. Nomes que permanecem no coração do torcedor.

Com excelente média de público e constante presença nos campeonatos, o Fantasma engrandece o futebol paranaense. Parabéns, torcida operariana!