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James Bond está de volta.

Com mais de meio século no combate ao crime o agente do serviço de inteligência britânico, com licença para matar, azucrina a vida dos malfeitores.

James Bond é claramente um sociopata. Autorizado pelo governo do seu país a eliminar os inimigos, ele dispõe da vida humana e da propriedade com a maior desenvoltura. Entre uma briga e outra, o agente consome belíssimas mulheres como se fossem pipocas amanteigadas no escurinho do cinema.

Como ele é alto, sempre vestindo ternos impecáveis das melhores alfaiatarias instaladas há séculos na Bond Street – deve ser parente do mocinho –, dirigindo carrões que dão água na boca de muitos políticos brasileiros corruptos, e faz tudo a serviço da rainha, nós perdoamos o seu menosprezo pela maioria dos valores que defendemos.

Distinto cavalheiro, que parece saber bastante de tudo com frases bem construídas para cada tiro mortal, durante mais de 50 anos ele tem sido um personagem emblemático. Na comemoração do cinquentenário da franquia o exercício de marketing cinematográfico superou todas as expectativas: James Bond e a rainha, aparentemente, entraram no Estádio Olímpico de Londres de paraquedas. Como diria o sábio Q “Cresça Bond”.

No último episódio, que está sendo lançado neste mês – 007 contra Spectr e –, Daniel Craig, cuja atuação constitui a melhor de todas as encarnações do superespião de Ian Fleming, enfrenta o vilão interpretado pelo excelente Christoph Waltz. Nesse mundo tumultuado em que vivemos, com tantos valores jogados no lixo, custamos a entender os motivos que nos levam a amar os filmes de James Bond. Talvez seja o seu movimentado estilo de vida, com iates maravilhosos, superautomóveis ou cassinos glamorosos ao redor do mundo em que só ele parece descobrir, sem que estejam lotados de velhos perdedores. Ou porque ele é capaz de destruir tudo o que usa sem pagar um centavo e ter a consciência do dever cumprido.

Pano rápido. Cenas da vida real: o ex-governador de São Paulo e ex-presidente da CBF, José Maria Marin, foi transportado de uma prisão na Suíça para um dos mais luxuosos condomínios de Nova York, na 5ª Avenida, onde possui apartamento avaliado em milhões de dólares. Observando as aventuras de Bond e Marin parece um sonho escapista, um universo paralelo em que a moral foi suspensa, salvo pelas coisas que não impedem o divertimento e uma boa história. Ficção.

Mas Marin existe. Com longa atividade política no país tornou-se um homem multimilionário. Por isso, é claro, a única coisa mais absurda é a vida real.

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