Vendo o técnico Macuglia com dificuldades para acertar a escalação do time do Coritiba e o técnico Vadão sem conseguir acertar o posicionamento da defesa do Atlético, lembrei-me de Bela Guttmann.
O húngaro que ajudou a revolucionar o futebol mundial diria que Macuglia é um principiante e Vadão devia aposentar um volante e passar a jogar com um meia-armador ao lado do velocista Ferreira. Mas deixa isso pra lá. Vamos filosofar.
Aquela seleção húngara que encantou o mundo adotava um estilo hoje definido como sul-americano. Mas as pessoas insistem em falar de futebol europeu como um monolito, sem saberem que, quando a Hungria derrotou a Inglaterra por 6 a 3, em Wembley, os ingleses faziam o jogo aéreo e, os húngaros, o rasteiro.
Não esqueçam que o húngaro Dori Krueschner mudou os conceitos táticos do futebol brasileiro ao ser contratado pelo Flamengo. E seus compatriotas Bela Guttmann e Gyula Mandi também nos ensinaram.
Foi graças a Bela Guttmann, técnico campeão pelo São Paulo, em 1957, que o auxiliar Vicente Feola aprendeu a esquematizar a seleção brasileira no 4-3-3 que nos deu o bicampeonato mundial. Até ali, a seleção brasileira parecia um bando de índios em filme americano: só atacava.
Outra coisa que não sei se esses técnicos que dirigem nossos times sabem: em 1966, Nélson Rodrigues cunhou a expressão "saúde de vaca premiada" para descrever aqueles ingleses e alemães correndo infatigáveis pelo campo na final da Copa da Inglaterra.
Foi quando no Brasil travou-se o debate entre o futebol-força e o futebol-arte. Alguns poucos, como João Saldanha, compreenderam que era possível unir as duas teorias e o Brasil apareceu na Copa de 1970 com a seleção de melhor preparo físico. E de melhor técnica, naturalmente.
Mesmo assim foi preciso surgir o Carrossel Holandês na Copa de 1974 para convencer alguns teimosos de que era possível a bola correr e os jogadores também. Johann Cruyff explicou algum tempo depois que toda aquela movimentação vinha do fato de que dois jogadores corriam para se aproximar do homem que tinha a bola e os demais trocavam de posição para ocupar os espaços abandonados. Era um time compacto, que tanto defendia quanto atacava em bloco.
A seleção brasileira do técnico Dunga vive um dilema conceitual: apresenta furos na retaguarda, valoriza pouco a posse de bola na circulação pelo meio-de-campo e erra muitos passes na passagem para o ataque.
Se prestarmos atenção, a seleção brasileira tem sido o reflexo da debandada dos craques para o exterior em contraste com a pobreza do futebol praticado internamente. Se fizermos um exame rigoroso, verificaremos que contamos com dois, talvez com boa vontade, com três ou quatro times de qualidade.
O termo globalização vem sendo mal aplicado por aqui.
Coxa aproveita
A Portuguesa Londrinense abriu mão de jogar em sua sede, por questões financeiras, revelando completa incapacidade de participar de um campeonato que se diz de elite. O Coritiba, que não tem nada a ver com a penúria da Lusinha, aproveitou o fato de jogar em sua cidade e se impôs tecnicamente no Pinheirão vencendo por 2 a 1 e somando três pontos importantes na luta pela classificação.
Disputado debaixo de um sol incandescente, o jogo foi arrastado e mesmo com o triunfo deu para notar que o time do Coxa continua com descompasso em sua linha de zaga e ressente-se de melhor entrosamento entre defensores e meio-campistas. Mas como em futebol o que vale é a vitória, o Coxa ganhou o sábado.
carneironeto@gazetadopovo.com.br
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