Encerrada mais uma Copa do Mundo com monumental saldo financeiro para a Fifa e farta distribuição de mimos para os dirigentes-eleitores, cientistas sociais abriram o debate sobre o fim do elemento lúdico e a profanação dos esportes modernos.
Com a exagerada comercialização dos campeonatos, o futebol estaria destruindo um dos seus aspectos fundamentais para o prazer e a satisfação das pessoas, representado pelo elemento lúdico.
Com a redução do comprometimento sentimental dos jogadores, diminui a espontaneidade e eles passam a agir como meros profissionais com a obrigação de cumprir as cláusulas contratuais com associações e patrocinadores.
Os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo nos remetem à ideia de que a transformação do esporte em espetáculo da mídia ou, em alguns casos, em programa de televisão, é responsável pelo declínio do lúdico. Ou seja, está desaparecendo o sonho de o torcedor projetar os ideais de vida no esporte.
A erosão deste elemento é causada pelo excessivo mercantilismo a que foi submetido o futebol, transformado em simples negócio e, consequentemente, em evento cada vez menos provido de significados puros que embalam a imaginação dos fãs e aficionados. Para suprir esta ausência de motivação, a mídia tenta impor ídolos e fabricar craques, exagerando na ilustração do acontecimento e, sobretudo, nas transmissões dos jogos.
Verifica-se desesperada campanha para evitar que os espectadores sejam personagens passivos, apenas com o poder de clicar o controle remoto e trocar o jogo por um filme. O futebol ainda encontra espaço para manifestações sagradas por conta do fanatismo ou do envolvimento cívico-emocional que, por exemplo, caracteriza uma Copa do Mundo.
Nas partidas entre clubes tradicionais os torcedores se fantasiam, pintam os rostos, cantam e reverenciam seus ícones, símbolos e cores, choram e rezam, demonstrando que uma certa aura sagrada permanece, ou pelo menos é recriada a cada novo clássico.
É como se a crescente comercialização do futebol fosse absorvida pela necessidade que o indivíduo sente da sacralidade, fazendo com que os limites entre o sagrado e o profano não sejam bem definidos para não estragar a ilusão proporcionada pelo momento festivo do gol.
Pelo envolvimento que o futebol exerce sobre as pessoas e, por razões culturais, a racionalização enfrenta resistências.
Todos reconhecem que o futebol é um grande comércio, porém, este grande comércio é um terreno fértil para a produção de mitos e ritos representativos.
Mas dirigentes e investidores não podem perder de vista a preservação dos elos saudáveis do futebol com o negócio, todos baseados na ingenuidade dos torcedores que ainda só tem olhos para o espetáculo.
No dia que o torcedor perder o direito de sonhar, o futebol deixará de ser fenômeno de massa.
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