Os gregos, que sabiam das coisas, contavam os anos pelas Olimpíadas. Era um ponto de referência então universal, para gregos e troianos.
Durante algum tempo, na minha infância, era comum a expressão: “fulano tem tantos carnavais” para designar a idade do cara. E havia, também, aquela outra expressão que funcionava como advertência: “Eu te conheço de outros carnavais”.
Isso deveria significar, entre outras coisas, que existia alguma diferenciação entre um carnaval e outro, pois as músicas mudavam, e com elas, o timing e o sentido da festa.
Houve o carnaval da Maria Candelária. Blecaute, o general da banda cantava: “Maria Candelária é alta funcionária, saltou de paraquedas, caiu na letra “O”, oh, oh, oh”. Também teve o carnaval do sossega leão, perdido nas mais profundas galerias do tempo, como Saçaricando, Jardineira, Teu Cabelo Não Nega, até Zé Keti, com o samba Máscara Negra, sucesso absoluto.
João de Barro, o icônico Braguinha, nos brindou com a “Mulata cor de canela. Salve, salve, salve ela !” ou o “Pirata do olho de vidro e cara de mau”.
Os eternos Lamartine Babo e Ary Barroso encantaram gerações com a marchinha que termina assim: “Morena da cabeça, aos pés, Morena eu te dou grau dez”.
Meu apreço pelo carnaval se resume hoje aos sambas e às marchinhas que embalaram minha fuzarca infantil. São as músicas que ficaram gravadas, como as engraçadas estrofes de “O Pirata da Perna de Pau” ou “Allah-lá-ô”.
O carnaval era mais puro e, por isso, mais apreciado por todos.
As famílias se reuniam nos salões dos clubes sociais do mesmo jeito que brincavam o footing pela rua XV, entre as praças Osório e Santos Andrade. As escolas de samba subiam pela Barão do Rio Branco e entravam na rua XV, para delírio da multidão que superlotava o centro daquela Curitiba com arquitetura marcadamente europeia.
No Rio de Janeiro era tudo mais calmo também, nos tempos dos desfiles na Presidente Vargas e na Praça 15.
Depois do Sambódromo, o carnaval carioca ficou mais ou menos parecido como uma parada do dia da Independência: é sempre a mesma coisa, os mesmos hinos, as mesmas luzes, as mesmas emoções e a mesma fauna.
Efabulativo
Dinho foi durante anos o rei Momo do carnaval de Londrina. Numa Quarta Feira de Cinzas morreu um amigo durante a folia e ele tirou a fantasia para acompanhar a missa de despedida.
O padre celebrante era conhecido antigo e, ao final, chamou Dinho para um abraço:
- Quanto tempo meu caro amigo. Estudamos juntos no ginásio e perdemos totalmente o contato.
- Pois é. Ficou difícil para a gente se encontrar: eu pouco venho à igreja e o senhor não frequenta a zona...