Desde que calcei a primeira chuteira e comecei a gostar de futebol, ouço falar em Heleno de Freitas. Ele não foi craque como os ídolos de sua época, Leônidas da Silva e Zizinho. Chamou mais atenção pelo que fazia fora do que dentro de campo. Talvez por isso tenha virado inspiração para um bom filme, lançado durante a semana em Curitiba.

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Longas-metragens sobre heróis do esporte são coisa rara, pois as suas proezas se esgotam nos estádios, nas quadras, nas piscinas ou em outros locais apropriados para cada modalidade. E biografia é um negócio complicado, tanto que, a meu ver, a diretora do filme A Dama de Ferro perdeu a mão ao passar mais tempo focalizando Margaret Thatcher na atualidade, adoecida e conversando com o fantasma do marido falecido, do que no auge de sua fantástica carreira política.

Meryl Streep conquistou o seu terceiro Oscar pela interpretação perfeita e a maquiagem, tão importante na composição da personagem, foi igualmente laureada. Só que a apresentação da impulsiva estudante que se tornou parlamentar e transformou como primeira-ministra a economia da Inglaterra foi superficial, sem a profundidade que ela fez por merecer como líder mundial.

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Surgiram filmes sobre Pelé, Garrincha, Tostão, Zico, mas nenhum cineasta havia encontrado coragem para abordar a realidade e o mito do polêmico Heleno de Freitas, o primeiro romântico do futebol, o único a fazer dramaturgia nas relações com os companheiros e adversários e a evoluir no gramado como se estivesse em uma arena teatral.

Morto há mais de meio século, a fama do primeiro craque-problema do futebol brasileiro sobreviveu por ele ter sido talentoso, belo, temperamental, sedutor e, no final da carreira, perigoso. Jogou no Botafogo, na seleção brasileira e no Boca Juniors, com efêmeras passagens por Vasco e América. Foi apelidado de Gilda, em referencia à personagem de Rita Hayworth no filme noir de 1946, com o célebre slogan publicitário: "Nunca houve uma mulher como Gilda". Ele enlouquecia quando as torcidas adversárias o chamavam pelo apelido, porém se vingava marcando gols, colecionando belas mulheres, frequentando as melhores boates de Copacabana, o cassino da Urca ou apenas desfilando com o seu impecável Packard último tipo pelas ruas do Rio de Janeiro.

O filme não é lisonjeiro com ninguém, nem com o protagonista, em boa interpretação do ator Rodrigo Santoro.

Heleno foi um enigma para o seu tempo, pois jogava muito bem futebol, mas bebia, era viciado em éter, sifi­­lítico e, nos últimos anos de vida, chegou a ser tratado com choques elétricos.

Um drama biográfico de primeira.

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