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Os brasileiros estão se sentindo na sala de espera da Copa e, a cada dia que passa, vai aumentando a expectativa e a emoção de torcer pelo time mais vitorioso do mundo.

A Copa do Mundo é um acontecimento que toma conta do planeta e mexe diretamente com todos os povos, inclusive aqueles cujas seleções não alcançaram a classificação para o torneio. A seleção brasileira, por exemplo, possui torcidas organizadas e cativas no Haiti, na Turquia, na Índia, na Palestina e em outros países que amam o estilo de jogo dos nossos craques.

No caso do Brasil, a identidade e auto-estima nacionais estão mais associadas à natureza, à festa e ao esporte do que a processos ou acontecimentos históricos e políticos.

Apesar de todos os esforços do país, que inclui um dos mais rápidos processos de industrialização do século passado, o Brasil, infelizmente, ainda é visto por muitos estrangeiros como o "país do futebol" ou o "país do carnaval". Muito diferente, por exemplo, dos Estados Unidos, que celebram com fervor a data de sua independência após guerra com a Inglaterra e sustentam a imagem de país da liberdade; ou da França, cuja imagem está associada à Revolução de 1789 e às conquistas republicanas; ou mesmo da Alemanha, que provocou duas guerras mundiais, foi derrotada, foi destruída e reconstruída como a maior potência econômica da Europa.

O envolvimento do brasileiro com o futebol, capaz de comover e de hipnotizar o país inteiro durante a Copa do Mundo, provavelmente se deve à primazia global do Brasil nesse esporte. Mas também ao fato de que, no futebol, traços culturais arraigados, como a improvisação, o jeitinho, a ginga e a espontaneidade, deixam de representar um déficit ou uma inaptidão do país ao progresso e funcionam como um triunfo sobre os países mais desenvolvidos, cujos êxitos estão associados à racionalidade, à disciplina, ao cálculo frio.

O fato de que as proezas do futebol brasileiro sejam um veículo da auto-estima nacional e sirvam em alguma medida para compensar frustrações históricas não as desmerecem, muito pelo contrário.

Seria porém positivo se a energia coletiva voltada para o futebol e o apego ao país por sua seleção pudessem servir de exemplo para outras áreas, onde, infelizmente, há pouco o que comemorar. Na verdade, existe grande frustração com o comportamento de autoridades, de políticos, do infortúnio da miséria, da falta de saúde, da falta de educação e da falta de segurança.

Seria muito bom se o futebol deixasse de ser uma válvula de escape de um país com condições de ter muitas outras razões para se orgulhar.

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