A quebra do recorde dos 100 metros, no Mun­dial de Atletismo, em Berlim, arrebatou a to­­dos e projetou mais uma lenda para além dos limites do esporte. O corredor jamaicano Usain Bolt quebrou o recorde mundial com o tempo de 9,58 segundos, colocando em dúvida todas as previsões cientificas sobre a velocidade máxima que o corpo humano é capaz de atingir.

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Há 21 anos, nos Jogos Olím­­picos de Seul, outro jamaicano, Ben Johnson, naturalizado canadense, a quem os amigos e a própria imprensa acertadamente conferiram o vigoroso apelido de "Big Ben", viveu exatamente tudo isso ao passar como um raio na prova dos 100 metros.

Crônicas derramadas, um baú de adjetivos a compor panegíricos ao grande astro que havia batido o seu próprio recorde e ampliado o horizonte da capacidade humana ao cruzar a linha de chegada com o extraordinário tempo de 9,79 segundos.

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Glória suprema, explosão de força, a formidável massa muscular, a velocidade espantosa, técnica admirável, orgulho nacional, vitória da raça, exaltação dos ideais olímpicos, uma beleza. A figura atarracada de Ben Johnson, mais apropriada a de um lutador de boxe, sem a leveza que sua velocidade sugeria, estava em todos os vídeos e tudo nele era motivo de festa.

Glória efêmera. Um exame médico derrubou o recorde e jogou o campeão na vala comum dos desgraçados. O doping submeteu-o a execração pública, os títulos lhe foram tomados, romperam-se os contratos de publicidade e a representação nacional negada. Proibiram-no até de correr. Passou a viver escondido nos subúrbios de Toronto.

Mas não há como negar que Ben Johnson foi uma lenda do esporte. Pois tanto sua vitória quanto seu crime incorporaram-se à história dos Jogos Olímpicos.

Mais de meio século antes de Cristo houve um anti-herói chamado Mílon, considerado o maior atleta da Antiguidade e possuidor de força sobre-humana. Mílon era tão forte e impressionava tanto os homens do seu tempo que até o que comia tornava-se automaticamente um recorde, quase um rompante de homem infinitamente superior aos seus contemporâneos.

Comia por dia 7 quilos de carne, 7 quilos de pão e bebia 10 litros de vinho. Se esses números são apenas cabalísticos, cumpre acrescentar que ele matava um boi de quatro anos com um potente soco na testa e gastava apenas um dia para devorá-lo totalmente. Sua especialidade era a luta greco-romana tida, naquele tempo, como a mais digna para um homem livre.

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Foi um campeão, mas descuidou-se da forma física e, depois de incontáveis façanhas olímpicas, teve um fim prosaico, indigno de sua legenda.

Agora o limite do corpo hu­­ma­­no não esta mais sendo estabelecido pelos fisiologistas, mas pelo fenômeno Usain Bolt. Que os louros continuem brilhando na coroa da vitória do jamaicano com aceleração explosiva e que permaneça glorificado pelos seus recordes por muito tempo.