Na primeira vez que fui aos Estados Unidos ouvi na televisão um político norte-americano dizer: “É preciso limpar as palavras”. Se bem lembro, ela falava a respeito de um escândalo que havia ferido injustamente a reputação de alguém. Era como se assinalasse que tínhamos de ter mais cuidado na escolha dos termos que utilizamos. Mas chamou-me a atenção que ele se referisse às palavras como objetos que podem estar mais ou menos limpos.
Fiquei intrigado com aquela frase. A cultura daquele país tem um substrato calvinista, e um dos itens da ética protestante é o confronto entre o limpo e o sujo, o puro e o impuro.
Assim como a gente manda uma roupa para a tinturaria é preciso mandar limpar as palavras. Como se faz uma faxina na casa, pode-se faxinar o texto. Há até especialistas nisso: o revisor, o copy desk, o redator. Eles pegam o texto alheio e começam a cortar aqui e ali as gorduras, os excesso, as impurezas gramaticais.
Nesta semana o país assistiu a uma limpeza geral de roupa suja, ou de palavras sujas, com o tiroteio verbal entre a Presidente da República, o Presidente da Câmara, ministros e líderes políticos.
Como todos aguardam o fim da grave crise política para que o país retome o crescimento econômico, aumentou a expectativa não em torno da verborragia, mas das ações efetivas para a mudança do cenário.
O futebol também entrou na dança. Não das palavras, mas dos escândalos que desnudam a vergonheira dos cartolas, culminando com o licenciamento do presidente da CBF. Até que enfim o senhor Marco Polo Del Nero ligou o desconfiômetro e tirou o time de campo.
Ele e o ex-presidente Ricardo Teixeira, entre muitos outros dirigentes internacionais, foram acusados de corrupção pelo departamento de Justiça dos Estados Unidos e pelo Comitê de Ética da Fifa, que vai investigá-los.
Sobre Ricardo Teixeira pairam suspeitas de que recebeu propinas do empresário J. Hawilla para colocar em campo na Copa América os jogadores brasileiros mais populares e vender por preço mais elevado direitos da tevê. Ora, ora, como é que ficavam os técnicos da seleção na hora da convocação e da escalação do time nacional?
Segundo a Justiça americana o futebol sul-americano pratica “corrupção sistemática” na Libertadores, Copa América e Eliminatórias da Copa do Mundo há mais de 20 anos.
Esse é um dos problemas do continuísmo nos cargos em clubes e entidades esportivas. Vira ditadura e a ditadura gera maus costumes. São milhões de dólares que giram em torno da venda de jogadores e tantos outros negócios rentáveis.
O futebol, mais do que nunca, está precisando de ampla reformulação. De uma limpeza geral.
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