Os tempos não andam favoráveis diante de tanta agressividade nas relações comuns e a incontida violência nas grandes cidades. Curitiba, em particular, encontra-se em estado de choque com o ataque perpetrado contra o ex-prefeito da cidade, o estimado Saul Raiz; o latrocínio que tirou a vida do médico Paulo Carboni Júnior e o escândalo na UTI do Hospital Evangélico, entre tantos outros crimes que de forma assombrosa passaram a fazer parte do nosso cotidiano.
Um país que tinha tudo para dar certo, se contasse com governos mais eficientes e com políticas públicas definidas, especialmente nas áreas de educação, saúde e segurança, virou do avesso porque os governantes só se preocupam com suas reeleições.
Diante de tantos acontecimentos negativos e insegurança generalizada, pergunta-se onde o país perdeu suas boas maneiras. Vizinhos barulhentos que não respeitam nada nas festinhas de fim de semana; crianças incontroláveis; pais violentos; desequilíbrio emocional de motoristas no trânsito; assaltos; intimidação; constrangimento; enfim, falta polidez à grande maioria da população.
Grosseria nas ruas, roupas desmazeladas, palavrões à vontade, pais que macaqueiam o estilo e a gíria dos adolescentes e uma falsa camaradagem de médicos e outros profissionais indicam uma crise de boas maneiras. Estresse, erosão moral, decepção com o quadro político nacional, mão de obra desqualificada em quase todos os segmentos, mau atendimento nos serviços em geral e declínio dos valores familiares são geralmente apontados como causa da crescente incapacidade das pessoas de conviverem civilizadamente. O Brasil se tornou uma sociedade mais rude e grosseira.
O futebol, que é a expressão mais rica das sensações humanas, também decaiu com os maus modos dos dirigentes e o descontrole das torcidas organizadas.
O episódio da morte de um jovem torcedor boliviano na partida do Corinthians, pela Libertadores, diz bem da gravidade do problema. Foi também um tipo de sinalizador que matou duas centenas e meia de jovens na boate de Santa Maria.
Em vez de educar o povo ou de simplesmente eliminar as tais torcidas organizadas, desenvolveu-se o modelo de arena, que fatalmente passará pela elitização dos estádios e pela descaracterização de um modo de torcer à brasileira. A avalanche do Grêmio já foi para o espaço.
Desenvolvido na Inglaterra dos anos 1990 para combater as ações de "hooligans", as arenas adotadas pelo Brasil a partir do pioneirismo do Atlético e incrementadas para a Copa do Mundo, trazem a promessa de melhores instalações e mais segurança, mas também o risco de preços altos e seleção de torcedores, colocando em xeque a mistura de público que ajudou a moldar a identidade do esporte mais popular do planeta.