A lenta transição pode custar caro ao futebol brasileiro. E não estou falando dos problemas políticos que cercam o atual presidente da CBF, pressionado para dar explicações sobre o presente e o passado. Nem da dívida astronômica dos clubes brasileiros, algo que se aproxima dos R$ 5 bilhões, quase toda ela resultado de obrigações fiscais que deixaram de ser recolhidas. Acontece que além de dar o calote, o bolo devido aumenta a cada mês e os dirigentes continuam comprometendo as receitas dos clubes com operações financeiras de lastro duvidoso.
Algumas decisões, contudo, indicam que alguns cartolas pararam de fazer loucuras, tais como os salários irreais pagos a diversos técnicos ou contratações exorbitantes de jogadores que tentam alongar a carreira só com o nome. Mas esse é um assunto para ser tratado outro dia. Vamos cuidar da seleção brasileira, que não engrena. Se ia mal com Mano Menezes, não mudou com Felipão. O problema, porém, não se resume a este ou aquele técnico, já que tem muito a ver com a qualidade dos jogadores dessa geração que vai nos representar nas duas Copas que estão se aproximando.
A responsabilidade aumentou pelo fato de disputar partidas oficiais em casa, coisa que só aconteceu na perdida Copa de 1950, e todos constatam que a equipe não esta à altura das tradições do futebol mais laureado do planeta. Neymar, indiscutivelmente a maior atração da companhia, ainda não se tornou uma realidade vestindo a camisa canarinho. Ao contrário de gênios como Leônidas, Zizinho, Pelé, Garrincha, Didi, Tostão, Rivelino, Zico, Romário, Ronaldo, Rivaldo e outros poucos que explodiram desde logo, arrebatando as plateias pela arte e o poder de encantamento, Neymar segue apontado, unanimemente, como o melhor jogador do país, mas apenas jogando pelo Santos. Ele fracassou na Copa América, na Olimpíada e não tem conseguido mostrar o mesmo talento individual e nem aquele algo mais no conjunto para desequilibrar a favor da seleção. Craque incontestável no Santos, ele virou apenas mais um bom jogador na seleção, previsível e marcável como todos.
De certa forma esse fenômeno serve para diminuir a responsabilidade de qualquer técnico, ainda mais quando Kaká teve a sua chance e mostrou que não possui mais aquela habilidade no arranque mortal e muito menos na conclusão das jogadas, ou que Oscar precisa amadurecer e o meio de campo já passou da hora de acertar os passes. Quando Hulk vira solução é sinal de que alguma coisa anda errada.
Mas houve fatos positivos no sofrido empate com os russos, como a recuperação do goleiro Júlio César, a excelência de Tiago Silva, a atuação impecável de Marcelo e o oportunismo de Fred.
Mas, ainda tem muito a fazer para o escrete nacional alcançar o patamar sonhado pela torcida.