Conversa sobre futebol é uma coisa; jogo, outra. Podemos passar a semana inteira falando mal dos dirigentes, dos técnicos, dos jogadores e, principalmente, dos árbitros, mas quando a bola rola e começa a partida do seu time de coração, há como que uma suspensão das determinações externas, o que constitui o interesse próprio da contenda, independentemente do mundo ao redor.
Terminado o jogo, com qualquer resultado, o debate é retomado no encontro com amigos ou em locais públicos triviais, tais como bares, barbearias e outros tantos que reúnam mais de duas pessoas dispostas a falar de governos, eleições, gastos, corrupção e, é claro, futebol. O gostoso do futebol é que ao contrário de outros temas do momento torna-se improdutiva a discussão sobre um jogo porque se sabe que os elementos exteriores, até mesmo os salários atrasados dos jogadores, contam pouco entre as quatro linhas do campo.
Mas o futebol vem sofrendo outro tipo de fenômeno que, de maneira imperceptível e quase invisível, conduz ao fim do romantismo. Ou, por outra, percebo profundas mudanças no comportamento do torcedor.
Alguns meses depois da derrota na final da Copa de 1950, se alguém aparecesse no Brasil vestido com a camisa do Uruguai seria massacrado. Pois vi muita gente desfilando garbosamente com a camisa da Alemanha aqui, em São Paulo e no Rio de Janeiro, por onde tenho circulado em incursões culturais e gastronômicas, sem causar nenhum tipo de trauma ou protesto. A dor sem fim da humilhação futebolística virou coisa do passado.
Caminhando pelas ruas ou pelos corredores dos shoppings observo sensível queda no número de jovens vestindo camisas de times de futebol, da seleção brasileira nem se fala, e pouco interesse dessa faixa de idade mesmo com a última Copa tendo sido realizada em nosso país. Houve pouco entusiasmo durante o evento e poucos embarcaram no clima festivo do torneio torcendo pela seleção. Não fossem os turistas e a percepção de que havia uma Copa no Brasil teria sido bem pequena. Mesmo sendo esse evento de um esporte tão entranhado em nossa cultura e que faz parte da natureza do nosso povo.
Compreende-se que as pessoas tenham preocupações mais imediatas do que a realização de um campeonato, mas tudo indica que a globalização tornou obsoleta essa ideia, pois o futebol transformou-se em presa do marketing, capitalizou-se, passou a fazer parte do mundo da grana e nem sempre das finanças mais bem cheirosas.
Perdeu a aura romântica e qualquer um medianamente inteligente sabe que tudo gira em torno dos interesses comerciais dos patrocinadores, investidores, agenciadores e outros bichos que habitam o novo reino da bola.
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